quinta-feira, dezembro 31, 2015

Ano Novo, venha ele...

Com a idade, ficara assim, mais calma e mais sonhadora, mas sempre risonha, feliz, sentada no seu cadeirão de madeira gasta, cheia de marcas das unhas dos animais domésticos que ali cresceram junto dela, o gato Tobias e a cadelinha Xana.
Ficava ali meditando nos momentos do passado, com os pés inchados de tanta vida e andança na agricultura, nos tempos em que " era uma miúda toda gira", dizia ela, rindo-se, enquanto brincava com os caracóis louros do neto mais novo.
Hoje, último dia do ano, rodeada pelos seus rebentos já chefes de família, com netos e bisnetos a caminho, com os pés quentinhos, adormecidos nas pantufas cor-de-rosa, tinha um sorriso do tamanho do mundo no rosto: "Vem cá, João..." - disse ela, apontando para o seu mais novo. "Deixa-me contar-te, porque me sinto tão feliz, aqui, hoje..." E a família deixava a azáfama da cozinha, a confusão da televisão e o vício dos telemóveis. Aconchegavam-se, assim, junto à sua matriarca, com os olhos grandes de orgulho, ouvindo histórias que sempre ouviram e que pareciam sempre tão novas, mais que interessantes, rindo-se e abraçando-se. Um foguete gritou bem alto lá fora e fez-se silêncio, esperando mais. Era o fogo de artifício que começava a dar os seus primeiros passos na rua. "Feliz Ano Novo, vovó"- interrompeu o neto benjamim, que agora já andava na escola e tudo, de olhos bem abertos, azuis, resplandecendo de vida e de sabedoria. O abraço fez-se intenso, coletivo, doce e a conversa ficou aparentemente pelo meio. Era mais um momento de família, daqueles únicos, que só se vivem uma vez na vida. Lá fora, os foguetes cantavam, visivelmente felizes, também.

quarta-feira, dezembro 30, 2015

Memórias do meu avô

O meu avô merece que reescreva aqui o meu texto...


Tenho tantas saudades do meu "avozinho", uma presença única,sempre com tantas histórias de vida para contar, sempre me fazendo rir, com aqueles olhos azuis de galã, charmoso, me mimando com um pão-de-ló gigante, coberto de morangos e chantilly,"tudo light" , avisava."Tem pouco açúcar", dizia-me. Incrível.
O Meu avó plantou-me tanta memória no coração.Exibia-me à sua "patroa" no Carnaval, (chamávamo-la de "Senhora", uma lady americana, que alternava a sua residência entre os EUA e uma grande quinta no coração turístico da Ilha da Madeira), para mostrar os fatos confecionados pela minha mamy, na hora do chá, com as suas amigas. E ele rebentando de orgulho, em tudo o que a neta fazia e dizia. Era mordomo, chefe da cozinha de uma família americana, um cozinheiro, pasteleiro incrivelmente dotado. Daí se entende a arte que nasce das mãos da minha mãe, sempre que entra na cozinha... E eu adorava quando ele regressava dos EUA, onde trabalhava, chegando cheio de aventuras, que lhe ficavam saltando do olhar, sedento por partilhar tudo, as vivências, a peripécia hilariante da sua carta de condução tirada no estrangeiro, os estágios nas cozinhas americanas e as partidas que fazia aos colegas de trabalho...Fazia-me chorar à gargalhada...E lá chegava ele, carregado de histórias, e eu não perdia um único movimento daquele rosto lindo, fascinante, pele fina e branca, com ar de estrangeiro. Já no aconchego do lar, petiscando os cubos de queijo, passando os olhos pelo seu copo de whisky, mostrava orgulhoso um saco de prendas. Gostava desse momento, mas não pensava nele. Simplesmente o interesse puro estava num outro foco de atenção. O mais importante era ter o meu avô ali, à minha frente. Mas recordo com carinho, o cuidado que ele tinha. Lembro-me dos vestidos coloridos, cheios de folhos e adereços, ainda inexistentes em Portugal, da batata frita americana em pacote, da manteiga de amendoim e das iguarias novas que sempre me trazia... E ria-se, ria-se muito das minhas piadas de criança, até mesmo, de uma que me marcou muito. Quando, aos meus 4 anos, decidiram me fazer a pergunta mais dificil do mundo: "De quem gostas mais? Do avozinho ou da Lassie?" (era a cadelinha de estimação: o meu universo quotidiano). Olhei para ele e para a Lassie, e levei séculos a responder. Estavamos na sala, sentados ao piano, ao lado da minha mãe, em silêncio, esperando uma resposta...Não me recordo bem, mas acho que na minha inocência infantil, respondi meia chorona: "Lassie". De repente, lembro-me das gargalhadas, mas não me recordo da resposta. Ele riu-se muito. Essa gargalhada, o riso dele constante, bem disposto, quente e vivo, ainda o ouço, ternamente, inconfundível, no meu pensamento. No meu coração, foi o melhor avô do mundo.

domingo, março 04, 2012

Tão simples...


Contava as horas agarrada a um livro, saltando linhas e tropeçando desalmadamente nas palavras sussurradas no meu pensamento e nos sons prolongados do teu ressonar. Dormias ao meu lado, tranquilo, descansado, isento dessa emoção tão humana, quase adormecido também nos sentimentos que fechas a sete chaves, nem sei bem porquê. As horas teimavam em ficar presas, indiferentes, no relógio também ele frio, cansado em cima da mesa de cabeceira. O livro era tudo menos interessante. A cada teu respirar,  eu sentia que estava no sítio errado e na hora errada. Havia tudo ali menos amor no ar. O quadro que os nossos corpos pintavam esmorecia sem cor. Era tão simples: fechar o livro, fechar a porta e virar a página. Era tão simples aparentemente. Apesar do ruído sem ritmo, ensurdecedor no silêncio do escuro, do teu respirar pesado e despreocupado, era a ti que eu amava. Era ali que o meu coração pedia para ficar todos os dias, acostumado, embriagado, cego, mudo num amor que era e foi tudo menos correspondido. Apaguei a luz, meti algodão nos ouvidos e atropelei o vazio que me invadia a alma. Curiosamente, nunca te aperceberas que raras eram as noites em que conseguia adormecer ao teu lado. Amanhã, seria certamente outro dia.

sexta-feira, fevereiro 24, 2012

Abraço

Vinha conduzindo, pela noite já preenchendo de escuro a luz do dia , quando tocou na radio uma melodia do Miguel Gameiro. Dei comigo a escrever-te esta nota em pensamento.

Remeto-a agora da alma para o estado legível...


Dá-me um abraço desses que embarcam o universo, que enchem de ar os pulmões quase secos de sentimento e fazem nascer um sorriso vindo nem se sabe bem de onde, de forma espontanea. Dá-me um abraço desses que apertam e deixam os corações chocarem-se, de ritmo misturado num só, acelerado de emoção. Dá-me um abraço daqueles que sabemos que falam no silêncio e dizem tudo o que as palavras não conseguem. Não tenhas medo de me abraçar só porque eu te dou palavras de amor e chocolates, só porque eu te amo e revejo em ti o meu mundo. Nossas vidas não ficarão presas num abraço, angustiadas e saturadas. Pelo contrário, será mais um dos nossos momentos felizes. Dá-me um abraço, sempre que o teu coração grite que o quer fazer e o teu corpo estremeça nesse enlace.Dá-me um abraço. Não deixes que seja preciso pedi-lo. Nunca.


Brilho nos olhos



Há já algum tempo que aqui não registo o deambular da minha mente, ela sempre tão fértil em momentos de idealização. Hoje reencontrei-me presa a textos dos passado, a emoções antigas, saudosas, e ao fervilhar de sentimentos constante, esse estado já intrínseco no meu ser. As palavras nascem-me nos poros, e respiram por todo os cantos do meu pensamento, como um vulcão. Tenho de dizer-te frontalmente. Fui contagiada pela tua essência. A tua sensibilidade fascina-me. A caminhada conseguida com jogos e ilusões agrada-me, mas muito mais ainda, o tesouro da tua genuidade. Sempre afirmo que o facto de estares aí sentado, agarrado ao teu iphone ou tablet, no teu escritório, em casa, ou no café, lendo o meu texto tão despido de artifícios literários, te torna, desde logo, uma pessoa especial. Sem saber, avivaste os passos que marco na estrada. É, pensando em ti, que abraço sonhos quando adormeço, liberta da poeira do quotidiano, de mente lavada, embalando a esperança pequenina de vir a conhecer-te por inteiro. Trouxeste inspiração à minha vida. Fizeste-me deixar para trás quem nunca soube ler a minha alma, quem sempre transcreveu as minhas palavras como uma cópia da realidade, sem espaço para qualquer ilusão pelo meio, isento de emoção, quem nunca acreditou em mim. A névoa desse passado surge agora em vagas distantes, fugidias, e sem importância. Trouxeste-me o brilho aos olhos e reacendeste o meu sorriso. É por ti que escrevo aqui de novo e só por ti. A tua presença é acima de tudo apaixonante. Por isso, fica. Preciso de ti.

domingo, setembro 05, 2010

É tudo tão fácil?




Fácil? Não creio... Já por natureza  é tudo tão complicado e nós tornamos ainda mais complexo o mais pequeno detalhe, ou não seríamos seres, por vezes, masoquistas nos sentimentos.
Cheguei de Itália ainda com a cabeça a flutuar de tanta ilusão e sonho e viagem no tempo. Foi um mês de Agosto verdadeiramente fascinante. Chego a questionar-me se perdi tempo realmente ou se não terei aprendido mais uma lição de vida? Não sei. Algo devo ter retido no meu coração abalado.
O certo é que chegamos a  uma fase da nossa caminhada, em que cada degrau pode perder mais cor, parecer mais alto ou mais degradado. O grau de exigência no caminho impera, em simultâneo com a tolerância que aumenta visivelmente. Contraditório? Sempre contraditório, ou não seríamos humanos.
Como sempre falo de sentimentos e emoções que nos fuzilam de todos os ângulos, sem hipótese de fuga. É disso que, de uma forma ou de outra, se controi o meu quadro aqui. Fantasia ou não, imaginação ou não, penso que isso sim será o menos importante neste momento.
As paixões de verão são uma realidade, basta sair à rua em plena noite quente de verão e olhar em volta. Há apaixonados por todo o lado.
Nunca se sabe. Pode inclusive ser uma doença crónica sazonal, à qual seja impossível escapar. Sei lá...Incurável. Quanto a mim, sou uma eterna apaixonada por tudo o que manifesta atenção, carinho, mimo e deliciada com o charme masculino tão natural no macho latino, nada  a fazer.
Parece que também eu estou declaradamente ligada à fatalidade do Verão que me faz acreditar na felicidade, nas amizades, nas pessoas, nos sorrisos e em todo esse espírito liberal e descontraído que tosta ligeiramente não apenas a pele bronzeada, mas os neurónios, confundindo-os, retraindo o raciocínio lógico  e objectivo.
Para arejar as ideias, bem me apetecia agora sair com o carro e ir deliciar-me a ver as estrelas, purificando os pensamentos ainda confusos. 
Impossível: O verão está no fim e a noite  anda nublada. "Já não há estrelas no céu" como dita Rui Veloso. E aqui em baixo, longe do brilho dos astros, pobres humanos... Connosco, nada é fácil.

terça-feira, julho 20, 2010

Dia D


Os problemas no trabalho sucediam-se a uma velocidade sufocante. A falência da empresa estava à porta. A auto-estima afogava-se diariamente. Aliada a isto tudo, estava eu, pendurada no pescoço dele, a segunda metade da sua alma. A situação era tudo menos confortável e feliz. Passava os dias contando as horas para a sua chegada a casa, transpirado, irritado, vazio, artifical, precisando essencialmente de um banho na alma. Outrora uma pessoa tão doce, via-o agora como um fantasma sufocado, egocêntrico, fechado num egoísmo assustador, convicto de que era a vítima sofrida de um mundo que o mutilava em cada passo. Abrir a boca era sinónimo de um atentado à sua atitude. Qualquer palavra doce tinha logo a interpretação do mais acusativo possível. Era a hora de descarregar em cima de alguém, sendo que a preferência era alguém com quem a intimidade fosse estreita e sobretudo, alguém que o amasse. O alvo perfeito? Era eu, pois. E fui eu. Vi diariamente aquele homem lindo e encantador em tudo, transformar-se num ser que eu temia olhar de frente. O vazio preenchia os nossos dias, as nossas conversas, os nossos risos ocos de tudo. Pensar que, meses antes, perdia-me horas a fio olhando-o nos olhos, conhecendo-o por dentro, fazendo-o abrir as gavetas do pensamento e dos segredos mais bem guardados, num voto de confiança especial. Cumplicidade única. Pensar em tudo isso, tirava-me a lógica de qualquer quadro pintado diante dos meus olhos... Mas houve um dia, igual a tantos outros, em que o vi chegar, sorrindo, jogar-se no sofá, respirando o meu ar de mulher que ama por inteiro. Fiquei pateticamente feliz. Pensei que seria um dia especial para ambos. Nesse dia completava mais uma  primavera, mas a data do meu aniversário ficara na memória oculta, distante e esquecida, sobretudo pela pouca importância e pouca conveniência do dia. Assim foi. Por mais triste que possa parecer, esperando que um mimo saisse do bolso mais pequeno do casaco transpirado, nem um beijo recebi.

segunda-feira, julho 19, 2010

Palavras


Perco-me frequentemente na sensualidade de uma palavra que é dita quase por instinto, cheia de expressão corporal e de odor, traduzindo emoção, quase que palpitando directamente das batidas que se sentem um pouco irregulares por tudo o que é poro. Sugo essa vontade selvagem de tocar e saborear cada sílaba que se faz acompanhar de um  gesto ou de um olhar fixo, expressivo, iluminado de sensações.
Não entendo que seja possível ignorar todos estes sinais corporais, bater a porta e fechar-se na concha escura anti-social da insensibilidade. Acredito que existem máscaras. Corações frios? Não creio. Este é o meu mundo cor-de-rosa e quente. Sabe-me bem. Cheira a vida. Deixem-me sonhar enquanto posso.

quinta-feira, julho 01, 2010

Gelo

Sei que, por vezes, torna-se aparentemente confortável ser um bloco de gelo, desafiando o calor dos sentimentos que ardem em chamas agitadas, autênticas, bem à nossa volta. Rígidos, sozinhos, procuramos o conforto numa almofada vazia de emoção, nostágica, fria como uma lápide, receando derreter. O gelo conserva-se assim. Ninguém percebe a recusa fria de um carinho oferecido, seja um mimo, um pequeno gesto, uma palavra de confiança, um beijo, um afago de amor modesto que interrompe a jornada dura, um sorriso que está sempre no rosto e que é apagado e solicitado para um outro dia e uma outra hora, como que programado, na vontade cruel de que isso seja realmente possível, num momento em que dê mais jeito. Os problemas diários da vida não implicam afastar quem nos mima, de forma natural, sem sufoco, sem cobrar, sem incomodar... Pelo contrário... Essa dedicação não é digna de indiferença. Uma vez jogado no lixo, o sentimento que ferve espezinhado, desprezado, humilhado e reduzido, deixa de ter algum fundamento. Arrefece. A página do livro vira-se assim num vazio silencioso, salpicada por pequenas gotas salgadas que transbordam semi-secas, magoadas, mumificadas, criando crostas ocas, incompreendidas. O tributo ao amor e à amizade fez-se da forma mais genuína. E o livro fechou-se.

domingo, fevereiro 28, 2010

Lágrima...

Sempre me encanto com a capacidade incrível que temos para cicatrizar feridas.
Nas lágrimas que te molharam o rosto, vi exposto, sem rodeios, esse medo admitido de quem receia a solidão. Confessaste ser o teu maior medo. Nunca alguém me dissera isso assim, num mergulho simples nas palavras. Na pequena esplanada onde estávamos, os débeis raios de sol acolheram o meu soluço interior, disfarçado pelos óculos de sol. Não sentiste certamente, o tremor que me percorreu as veias. Um arrepio frio ameaçou decapitar o sorriso que cultivo. Sabes, amigo... Também eu temo essa sombra vazia. A ideia de um dia procurar um abraço em vão e apenas gesticular no vazio, aterroriza-me. Sou capaz de te empurrar pelos degraus, forçando a subida, por mais pesados que sejam os teus passos. Neste universo que abraço, estou pronta para subir a escada de novo. A queda poderá ser assustadora. Não importa, acredita. Marco os passos ao teu lado e a caminhada, a dois, compensa. 

sexta-feira, fevereiro 05, 2010

Amo-te...

Eterna amante da vida. Eterna sonhadora na caminhada. Extasiada. Horas de pensamentos doces e sonhos cor-de-rosa. Eterna adolescente apaixonada. Incompreendida na utopia, mas feliz, esperançada. Na simplicidade de quem sou, amada do modo que sou, sonhando sorrisos e sendo abraçada. A minha vida é feita de Amor, é feita de tudo e nunca de nada.

terça-feira, fevereiro 02, 2010

Mimo

A tua simples presença...é uma carícia eterna na minha auto-estima.


(Foto in www.olhares.aeiou.pt/carinho_foto2481.html)

Na tua voz

Chama o céu, a noite, as estrelas...
Chama a lua, o brilho, o silêncio...
Chama a chuva miudinha, o vento suave...
Canta e chama com eles a brisa...
Chama o orvalho que cai sereno no escuro..
Chama o canto do grilo distante...
Chama a cor do negro em fuga, errante...
Chama a silhueta da lua no mar...
Chama a noite vadia que chega..
Chama o perfume da vela acesa...
Chama o fogo intenso que dança...
Chama o meu nome perdido, apaixonado...
Chama por mim, sonhadora como sou...
Chama e canta na noite, que eu vou.

segunda-feira, fevereiro 01, 2010

Para ti...


Estou feliz. Ainda há quem acredite nas palavras que o meu pensamento joga, às cegas, neste espaço.

domingo, janeiro 31, 2010

Do lado de fora...


Correu para ver o jogo de futebol lá na TV da sala e a miúda ficou na cozinha, resmungando sozinha, batendo com um pé no chão, numa dança irritante. Pensei que iria vê-la cair da cadeira. Fez-me lembrar um puto amuado, no início de birra. De perto, assistia assim ao grande início do conflito do dia. Já era usual aquela discussão descompassada, aborrecida e corriqueira. Quanto a mim, começava a ficar farta do ambiente. Ela suspirava pronta para explodir. Saiu da cozinha cega, revoltada com o mundo e com o namorado, este último de olhar preso ao grande plasma, todo esticado no sofá, comendo batata frita de forma mecânica e com uma cerveja aos seus pés, ameaçando alagar o tapete de bambu que se exibia no centro.. Que cenário. Fiquei de fora. Isolei-me do ciúme estúpido do futebol e fui ver o jogo para casa.

sábado, agosto 29, 2009

Mergulho livre


Vim actualizar sentimentos e emoções, questionando-me se isso será humanamente possível.

Tentemos.

Mesmo com o pensamento em agitação, fervendo de ideias, cores e imagens, a emoção impõe-se, soberana. Confunde-se, embora bem definida, com um vulcão em erupção, destemido e acabo "quase" duvidando desses sentimentos que se dizem tão certos.

O mergulho foi livre, directo. Não houve espaço para uma palavra trocada e dei por mim, ouvindo-te deliciada, horas a fio, interessada, mesmo quando os bocejos físicos reclamavam horas de sono em atraso. Quis falar. Fui reprimida. Não foi a apatia que me reteve. Foi a simplicidade da minha sintaxe e do meu ser, maravilhada com o choque térmico dos teus olhos quase frios. Contraditório? Antagónico? Conservador? Não... Apenas um mergulho livre, quase envenenado, nessa voz embriagante, que nada promete, nada sente, nada questiona em si. E percebi. Percebi a dimensão do que sou. Senti-me grande. Gigante. Tenho afinidade por ti, intensa, ao contrário de ti, incapaz de corresponder a um coração como o meu. Não estou triste. Estou antes, consciente da dimensão da minha espiritualidade sensível. Sou uma mente com emoções, que abraça o mar e o céu, com a vida que tem e ama, que chora, ri e vive, sem medo, encantada com esse milagre da vida.

De alguma forma, serás sempre o meu anjo. Um anjo que voa, mergulha, mas que não se entrega ao céu quente, com medo de perder o poder na terra fria.

terça-feira, maio 19, 2009

Comments


Este espaço só faz sentido com alguém aí desse lado.
Um pensamento, um devaneio, um suspiro... É só escrever.

sábado, maio 16, 2009

Sorriso.


Não é todos os dias que sentimos um sorriso vindo da alma. É verdade. Mas são tantas as vezes que recebemos uma expressão dessas, tão mágica e pura, e nem percebemos o poder desse gesto. Vale tanto. Vale tudo. E quando não conseguirem sorrir, continuem a tentar... Esse simples movimento facial alimenta o ego de esperança e aquece qualquer sentimento dorido. Ajuda a cicatrizar.

terça-feira, maio 05, 2009

Click virtual?

Eis a carta que ela deixou no carro e que infelizmente acabei encontrando quando estava à procura dos óculos de sol, num dos compartimentos laterais. Era para mim. Deixou-me uma carta?
E eu que pensava que já não se escreviam cartas, mas que apenas se enviavam mails ou sms. Estou incrédulo, chocado e triste. Voltei a ficar só. Voltei a ficar vazio. E pior…tenho vergonha de mim e ao mesmo tempo, sinto raiva dela. Adoro-a, mas não me posso prender, sobretudo depois de ter lido isto. Que mulher teimosa. Que mulher chata! Que mulher linda... Que fiz eu?
Olá Mister Y.,
Escrevo-te, em resposta ao desagradável sms que me enviaste em duplicado.
Há já algum tempo, quando me telefonas, que não me apetece falar contigo e tu já sabes disso. Não tenho atendido os teus telefonemas. Desde há muito. Desde que tiveste acesso ao meu número. Evito-os, sob mil pretextos.

Queria esclarecer algumas coisas...
Ao contrário de ti, sou uma pessoa feliz. Luto por esse estado. Sei sorrir. O meu sorriso, sei dá-lo aos outros gratuitamente, sem segundas intenções virtuais ou físicas. Tentei falar-te disso. Recordar-te-ás de certeza.

Disseste que não eras nenhum príncipe. Sim, eu nunca disse que o eras.

Dei valor ao teu coração. Ao contrário de ti, não tive “click” virtual. Não entendo como pode um homem adulto falar de virtualismo dessa forma. Impressionante!

Não tinha o menor interesse físico em ti.

Cansavas-me até com as mensagens de voice-mail longas, maçadoras e sem interesse algum para mim, deixadas para ouvir em última instância. Não precisava de ti para ouvir palavras bonitas.

Quis conhecer o teu ser espiritual.

Não me coloquei nas tuas mãos para me escolheres, Mister Y. Não preciso de me submeter a isso. Por isso, nauseou-me classificares-me, afirmando que eu teria “superado as expectativas”.
Chocou-me a tua limitação literária.
Como é que alguém que supostamente deveria fazer leituras diversas, um homem da política, não percebe textos de ficção? Falo dos meus textos de ficção!

Fiquei horrorizada…

Pensas que o Paulo Coelho estaria a falar dele quando escreveu o "Alquimista", o teu livro de eleição? Quando escreveu o "Onze minutos" encarnando o papel de uma prostituta, era ele essa mulher? Que mundo literário é esse, pequeno e limitado, em que vives?
Não foste nunca a minha prioridade. Não poderias sê-lo.

Paulo Coelho está superado, em termos de "Alquimista", meu caro amigo. Não acredito que essa filosofia repetitiva e tão desgastada te traga sucesso. Abrir os horizontes do pensamento é uma qualidade. Cultivada, permite voar e ser livre, respeitando os outros, sem narcisismos.

Põe os pés na terra. Percebe que não chegaste nem a sair do ponto de partida. Estagnaste, caro Mister Y.
Nem mesmo o "Perfume" de Patrick Süskind conseguiste sentir? Incrível!
Não estou na Política, amigo Mister Y., como tu, e orgulho-me disso.
Ambos também sabemos o motivo.
É nas asas das Artes que me deixo voar. Não pretendo conquistar ninguém com as minhas aptidões, muito menos recorrer a excertos de monólogos monótonos, do tipo político.

Nada mudaria o vazio que senti na tua presença. Exalas solidão e tristeza. Até no tom de voz. Não sabes, nem consegues sorrir. És um homem triste, escuro, um poço de amargura ambulante. Vagueias só na excuridão de uma falsidade, de aparente modéstia, chegando a ser cruel de tanta frieza. Parece que estás morto sem qualquer motivo de existência, agarrado a uma ideologia política também ela desfalecida. Alegas que pretendes deixar algo para a Humanidade? Com atitudes tão pouco dignas que aqui não exponho, caro Mister Y., não vais muito mais longe, além do primeiro degrau do bloco de apartamentos onde vives. Ambos sabemos a que me refiro.

"Ninguém é perfeito". Sem dúvida.
Aceitei conhecer-te, apenas por ética, o único princípio viável que me moveu até ti.
Perdi, realmente, o meu tempo.“

Uau… Estúpida! Li isso de um fôlego e rasguei a dita carta em mil pedacinhos, com desejo de processá-la, de magoá-la ainda mais, de estragar a vida dela e de vê-la realmente infeliz, sem aquele sorriso sempre na cara, sempre gentil, directa. O optimismo dela e sua frontalidade irritaram-me mesmo. Senti o sangue ferver nas veias. O meu orgulho de homem esmoreceu. Pior que tudo… Fiquei com o dia estragado e andei com o telemóvel desligado por umas horas, com vergonha, até da minha própria sombra.

quinta-feira, abril 30, 2009

Caçarola de emoções


Basta juntar as preocupações com as idiotices das dúvidas e esmagar bem com uma pitada de bom humor, levando-as ao lume brando. Adiciona-se o ingrediente principal- as emoções- temperando-as de forma criativa, com amor e uns bons salpicos de sensualidade para aguçar o paladar. Recomenda-se que seja servido no mais belo ambiente romântico, com os telemóveis desligados.

sexta-feira, março 20, 2009

Vazio


Não há forma mais genuína de conhecer alguém do que olhando directamente nos olhos, descobrindo-os, trespassando o sorriso físico... Por isso, não tirei os olhos de ti nem por um segundo. E vi-te. Vi-te por dentro. Vi-te por inteiro. Vi-te, talvez, como nunca ninguém te viu antes. Perdido, vago, vazio e triste. E foi estranho... A tua tristeza ficou presa em mim.

segunda-feira, março 02, 2009

Comando à distância


A vida é assim, como um comando que liga e sintoniza o que se quer e quando se quer, desde que o aparelho emissor/receptor não avarie nem lhe falte a bateria.

É no que dá ficar tanto tempo sem escrever aqui.

segunda-feira, fevereiro 04, 2008

Esperança


É pintada de verde, dizem. Sinto que nasceu connosco e nem no cordal umbilical congelado, ela se deixa esquecer. Existe. Respira por nós, quando sufocamos. Vê por nós, quando recusamos abrir os olhos. A sua aliada, a felicidade, está aí, em cada janela que abrimos. Começa pela nossa capacidade de aceitar e perdoar, ensinando a ficar em paz com a alma, trazendo ao rosto um sorriso verdadeiro. A sua cor não tem definição. A atitude sim, transmite-a, negando qualquer arrependimento de algum passado, todo ele tão essencial para o cultivo da pessoa linda que deixamos crescer, diariamente, em nós. Ela existe, mesmo nos erros repetidos. Sentimo-la nas coisas mais simples da vida. Por isso subimos, mesmo cansados, a escada gigante da maturidade, por maior que pareça ser a tempestade. Enfrentamos o vento, a chuva, o sol tórrido, a cicatriz e o negro dorido. A esperança está por aqui, sempre. Não reacender momentos de mágoa é um príncipio. O egoísmo de reviver a dor, egocêntrica e quase masoquista, quase nos leva a esquecer a felicidade constante que, tantas e tantas vezes, sentimos. A Esperança existe desde o início de tudo. É a nossa fonte de sobrevivência e dá-nos essa capacidade imensurável, inata, de poder concretizar sonhos.

sábado, dezembro 29, 2007

Entrar no ano novo a sorrir...

(Deixo-vos o meu modesto artigo de Opinião, publicado no D.N. há 4 anos atrás, mas no qual não mudaria actualmente uma única palavra... A mensagem prossegue...)
Na cozinha, o aroma a peru recheado invadia o meu cérebro de recordações. De olhos postos no forno, pensava na cirurgia complicadíssima à qual aquela ave tinha sido submetida e conseguia visualizar a autora do dito repasto, cozendo e tricotando o ventre do "bicho", após ter metido no seu interior um recheio digno dos deuses. Hum... Peru. Cheira a peru na cozinha. Num outro tabuleiro, vislumbrei a deliciosa carne de vinha-d’alhos e o apetitoso pãozinho embebido no molho. Ai, ai... Que regalo para os meus sentidos e para o apetite que avançava a passos largos na direcção do forno. Isso equivaleria, no entanto, a horas de ginásio, pedalando, pulando e fazendo exercícios de ginástica localizada repetidamente para desgastar as calorias extra, dignas do Natal.
Na sala, a algazarra de sempre. Uns falando mais alto que os outros. Alguns cantarolando. São vozes de crianças e de adultos, graves, agudas, esganiçadas e, para completar o quadro entusiástico, uma aventureira no piano, adivinhando dedo a dedo as notas de uma canção tradicional de Natal.
É dia de Festa. Sim, eu sei. Estou consciente que aqui se encontram os meus entes mais queridos, mesmo os que já não estão no nosso mundo do dia-a-dia. Hoje, aqui e agora, estão todos reunidos, como sempre acontece no Natal. Somos muitos, mas eu continuo sozinha na cozinha com o pensamento concentrado unicamente no gigantesco peru de pernas ligeiramente erguidas, parecendo fazer abdominais dentro do forno.No entanto, não era o estômago que reclamava o direito a uma dentada na carne suculenta.
Ao observá-lo, voei alto e fui até aos países de terceiro mundo, onde o Natal e o conceito de família muitas vezes não existem, porque não há condições para tal. Aí, as crianças com frio e fome, nem sabem o que é o calor de um forno exalando este irresistível perfume a comida que remonta à infância e só se sente de forma igual neste dia do ano. Era nessas crianças e adultos que eu pensava ao verificar a fartura exibida na cozinha e senti-me profundamente triste.
Há tantas ajudas humanitárias promovidas nestas alturas do ano e que pouco irão ajudar quem vive quase sem respirar ao longo do seu quotidiano, sem forças para viver e meios para subsistir, vendo os filhos e os seus familiares se esvaírem em dor, fome e mutilações de índole diversa. É justo que desfrutemos este dia junto de quem amamos. Não o condeno, logicamente. Pelo contrário, enalteço esse valor atribuído aos laços familiares que nos sustentam, como raízes biológicas e psicológicas também. Apenas sonho que este dia se repita com frequência ao longo do ano e em muitos outros lugares do nosso globo, sobretudo no coração dos Homens que nunca conheceram o espírito do Natal e que podem estar bem perto de nós, vagueando perdidos.
Ontem, saí de casa com um sorriso brilhante, rasgando o meu rosto, mas no regresso, trazia apenas uma angústia sufocante no peito. Momentos de reflexão como estes, fazem-nos partir de uma atitude passiva a uma acção mais directa, pequena ou grande (pouco importa), incidindo sobre os que mais precisam de viver o Natal respirando alegria.
Pelo caminho, cruzei com uma idosa pedindo esmola numa rua comercial do Funchal. Pouco depois, enquanto conduzia, vi um mendigo jogado sobre um passeio e um transeunte olhando-o com desprezo e repugna, fazendo um desvio enorme para não se sentir invadido por "bactérias" indesejáveis. Vi também uma família atravessando a estrada na direcção do Hospital, levando sacos de hipermercado. Relembrei-me da solidão natalícia acentuada nos hospitais, onde o frio das paredes e o cheiro a desinfectantes adivinhando soro e seringas tornam-se quase irrespiráveis, por mais esforço e sorrisos que esbocem as enfermeiras e os profissionais de saúde.
O Mundo é assim, desigual, tal como a vida. Somos todos tão diferentes, mas, no fundo, tão iguais e transparentes. A superficialidade e frieza calculistas são máscaras que se julgam modernas e dignas essencialmente de pessoas que ocupam lugares de chefia. Mera aparência. Por dentro, todos temos sentimentos, ou não passaríamos de meros "fósseis andantes" no estádio de "mortos-vivos". Não conheço nenhum "Frankenstein".
O meu sonho prossegue, mantendo os pés bem presos à terra que me viu nascer e crescer. Modestamente, nos gestos diários, continuo tentando levar o aroma e o calor do peru e das iguarias natalícias, da festa e das risadas, ao coração daqueles que desconhecem o valor do Natal.
Este ano, o Pai Natal falou comigo. Após longo diálogo fictício, vi-o brincar com a sua longa barba branca como a neve e sorrir, confiante e cúmplice. Nesse sorriso encontrei a resposta que buscava. Todos sabemos que o rumo do Novo Ano está nas nossas mãos. Se, todos juntos, soubermos cultivar autenticidade em torno de nós, pensando um pouco nos outros ao longo de todos os dias do ano, poderemos então conquistar os tais idílicos momentos felizes nas nossas vivências mais simples.
Feliz Natal! Comam o peru recheado, mas não briguem nem entrem em disputa pelo melhor vinho, pela qualidade do tempero, pela variedade de iguarias, pelo tamanho da mini-saia da Maria ou pelo modelo das botas da Joana. Comam o peru recheado, pensando que estão em família, junto de quem amam e que, no mundo, existem muitas outras famílias. Sozinhos, não somos nada nem ninguém. Sem a tua presença aqui, tu que lês estas palavras e pensas nelas, este texto não teria sentido algum. O mundo é feito de pessoas, todas elas com direito a viver. São frases que toda a gente profere, muitas vezes, sem pensar no seu conteúdo.
Sei que juntos poderemos fazer muito por um mundo melhor, começando por um sorriso, um gesto ou uma palavra de amor dirigida a um desconhecido que se cruza connosco numa passadeira, em plena avenida, com um brilho vazio e triste no olhar e um sorriso apagado. Não tenhamos receio de ajudá-lo a atravessar a rua, apenas porque o seu cheiro é diferente do nosso. Atravessemos nós também essa rua que pertence a todos e entremos no Ano Novo, com o coração a sorrir, conscientes que fizemos e faremos algo por um mundo repleto de dias de Natal.
Continua a cheirar a peru na cozinha, mas eu perdi a fome e fui para a sala, emocionada, abraçar os meus pais.

Realidades...

Para reflectir,

não só agora,

mas durante

todo o percurso

da nossa vida...

A imagem fala

por si.

A viagem do Pai do Natal...


Na rua, reinou um trovão que desenhou no céu uma espada de lua cintilante, após o seu ecoar pesado, como o de um gigante deambulando sobre as nuvens escuras. Era noite e o frio penetrava até ao mais íntimo dos sentimentos. Algo de especial parecia querer acontecer, timidamente e de forma subtil. Era quase impossível adivinhar as sombras misteriosas de um pensamento quase cego que tentava caminhar no escuro do beco, tropeçando em baldes de lixo e fazendo vir às janelas os vizinhos irritadiços. Até os gatos, dormitando nos jornais e nos restos de comida deixados ao acaso em sacos de hipermercado, enfartados, bem ceados, afastavam-se do cheiro a desconhecido e diferença que ele libertava das roupas escurecidas, da cor da sua alma, perdida ali, naquele submundo. Caminhava deixando atrás de si uma sombra, cada vez mais negra, mas avançava em direcção à luz, como na caverna de Platão, na esperança de um mundo superior. Acreditava nele e por isso nunca se deixava cair, nem mesmo quando tropeçava e escorregava nos resíduos apodrecidos. Parecia estar atravessando um bairro onde apenas residiam pessoas de um nível social elevado, com mesas bem postas e iguarias diversas, podendo usufruir do luxo de deitar sobras de comida fora, ainda dentro do prazo. Tudo isto, quem sabe, talvez, no intuito de fazer variar as ementas e evitar as refeições congeladas e aquecidas. No país onde nascera, era tudo bem diferente. Havia casas, janelas, neve, frio, luzes, gatos e lixo "verdadeiro", crianças, alegria, sons, música e movimento, risadas e brincadeiras, mas, infelizmente, havia fome também. Não sabia bem onde estava e de onde surgira aquele mundo meio sujo e escuro, onde até o lixo se exibia farto, diante da opulência das casas majestosas, debruçadas sobre becos e labirintos estranhos, intrigando-o. Tal como os gatos, ali, as pessoas pareciam nervosas, pesadas e resignadas a uma poltrona, diante da televisão. Não se ouviam risos nas ruas. As janelas reflectiam as imagens sucessivas exibidas na televisão, como que, na mudança insatisfeita e sistemática de canais, processada por um comando televisivo depositado, quase desfalecido, numas mãos tristes. Reinava o silêncio. Era ele o senhor da noite, perdido, mudo e sem cor. E o trovão voltou a soar angustiado no céu, parecendo rebentar o azul-escuro, quase negro, e desenhar um rosto desesperado nas nuvens. Foi então que viu chegar o seu trenó e as suas renas com sininhos e sorrisos. Suspirou aliviado. Pode finalmente abandonar aquele lugar frio e egoísta e voar até ao seu mundo, onde a sua roupa teria brilho e a cor vermelha do amor, onde seria chamado de Pai e esperado pelas crianças que, mais do que ninguém, respiravam esperançadas, o ar límpido do Natal.

domingo, novembro 25, 2007

Viagem de letras e sonhos

E lá vamos nós rumo ao sonho de qualquer adolescente: conhecer outros países, outras culturas, viajar...
Enquanto eterna adolescente de coração, não poderia deixar de motivar os meus alunos para esta actividade, recusando a alguns a única oportunidade que poderiam ter, nos próximos tempos, para sentir um sonho pulsar vivo nas mãos. A vida não é fácil. Sonhar é um antídoto de eficácia pouco duradoura. Concretizar um sonho é a cura. Receber um olhar pequenino que sorri feliz e acredita na cura, justifica tudo.
Visitem-nos.

domingo, setembro 16, 2007

Rasgos de sangue


Voltei de novo ao espelho e vi a sombra do passado.

Se insisto em considerá-lo História, o presente teima em reacender as cicatrizes provocadas pelo incêndio suicida. Nada derruba tanto um ser quanto um espelho quebrado, sem imagem, vazio de crenças e esperança. Pelo chão pedaços de vidro quebrados, ainda ensanguentados, sorriem com ironia. São restos de saudade que ficaram, angústias afogadas, pseudo-amizades acolhidas em mimos, raízes nulas de autencidade. Os frutos obtidos são tudo menos paixão, luz e encantamento. Já não existe espelho, nem tempo, nem vida reflectida. O sonho morreu. Ficaram as pegadas de dor, marcas de sangue escuro, solitárias, abandonadas, agora indefinidas, já secas, esmagadas contra o chão pisado e sujo.

quarta-feira, setembro 05, 2007

Banco de areia

HOJE...


perdi um dia de sorrisos de vida;
perdi um rio de lágrima sofrida;
perdi um dia de confiança garantida;
perdi uma paixão muito sentida;
perdi a palavra de amor sempre recebida;
perdi a alegria da alma criativa;
perdi o sol de timidez esbatida;
perdi a febre do sangue, comprometida:
perdi o tempo na pulsação atrevida.

HOJE...

ganhei alguma da auto-estima já esquecida;
ganhei a consciência do teatro que se diz mundano;
ganhei uma maturidade envaidecida;
ganhei a cura pela experiência vivida;

ganhei a honra na dignidade defendida;
ganhei um dia de intensa ferida, já esquecida.

HOJE...

Embati num banco de areia. Afundei.

Tudo isto perdi e ganhei.

Ficaram estrias profundas no coração,magro de decepção e vazio de solidão.

Foi declarado o meu naufrágio de sonhos.

Nem a melhor marca de sedativos
obteria esta intensidade de dicotomias.
Deveria haver o seu genérico à venda nas Farmácias.

(Resultados garantidos.)

sábado, agosto 25, 2007

Mal-me-quer, bem-me-quer, muito? pouco? ou nada?

Aproximou-se, tirando os óculos de sol lentamente do rosto. Li o seu pensamento explícito. Receei que também o meu fosse assim tão evidente. Trazia uma sede de desejo escrita nos olhos e logo que tocou no meu ombro, senti toda uma avalanche de fantasias desnudar-se, sem timidez alguma. Agarrou-me pela cintura e percebi que não havia modo de fugir àquele chamamento quase animalesco, e estranhamento tão doce. Não consegui olhá-lo nos olhos. O seu coração saltava do peito, batendo em sentido contrário ao meu. Os olhares de ciúme, curiosidade ou até de crítica de quem passava, por vezes, empurrando-nos, mergulhavam como bombas sobre nós, tentando alvejar o prazer físico, quase mágico, ali exposto. O calor dos nosso corpos fundia-se ali mesmo, publicamente, louco, insaciável e poderoso. Senti que me observava da forma mais indiscreta, com os olhos colados no meu decote, acariciando a minha pele, presa ao seu corpo como um iman. Incomodada, senti um prazer louco, intenso, ao ver o quanto o meu bronzeado lhe agradava. Estava colado a mim. Diria eu, que, naquele momento, era eu o único mundo que ele via. Iludo-me? Muito provavelmente "talvez". A vida tem destes enigmas, felizmente.

quarta-feira, agosto 22, 2007

Cetim azul


Há muito que esperava por ti. Vesti a camisola de cetim e senti o meu corpo todo vibrar com o toque do tecido maroto. Desenhava cada contorno do meu corpo, adivinhando-o, escorregadio, num azul brilhante.

Fiquei pensando no sorriso lindo que tens, perdida e deslumbrada. Escutei a palavra sempre certa que encontras. Senti o toque quente das tuas mãos. O pensamento foi deambulando pelo erotismo de quem veste a pele dos trinta. Tudo mudou e continua mudando, de forma abismal, ao compasso do tempo. A surpresa é constante. As descobertas são agradavelmente inesperadas. A idade não cansa, não pesa, não tortura, não deprime. A idade enaltece a maturidade do prazer intenso da mente e do corpo...

O sofá vermelho, convidativo, sorria, escondendo os pensamentos mais ousados. A pele brilhava sob o candeeiro de luz ténue, debruçado sobre mim. Estava quente. Todo o meu corpo parecia ferver. O creme hidratante atrevido, derretia, perfumando cada pedacinho de pele encontrado. Os poros morenos suavizados reclamavam-te, sentindo ainda o toque mágico das ondas que me tinham envolvido durante a tarde, na praia... O erotismo exalava das velas de aromas silvestres que ardiam, brincando no chão da sala. A alça da camisola de cetim deslizou pelo ombro e deixou a descoberto o bronzeado do sol.

Estava ali, distante do mundo, esperando por ti, sorrindo e acariciando o creme que derretia suavemente pelo ombro descoberto. Tudo parecia ter ganho vida naquele meu espaço. A chama das velas dançava com sensualidade esboçando sombras na parede. O cetim escorregava, teimando em desvendar a nudez macia.

Quando acordei, o sol entrava pela janela, me acarinhando. A doce luz despertou-me delicadamente. O pescoço dorido relembrou-me que adormecera, de novo, no sofá, pensando em ti.

domingo, agosto 19, 2007

XÔ!!!

Nada como uma máquina destas digitais para apanhar o que não deve...Mas não se esqueçam: recorram à alternativa mais antiga do mundo. Não há paparazzi que o tolere. Estraguem com a foto.

quarta-feira, junho 27, 2007

Anjo

Deparo-me com uma paixão eterna pela vida, por mais barreiras que encontre tapando o sol que, todos os dias, me envia um sorriso maroto, num "flirt" constante.
Não há nuvem obesa que o impeça.
As persianas do optimismo não se fecham nunca por completo.
Um raio de esperança permanece, ousado e teimoso, me aquecendo o coração.
Um fio de brisa fresca trespassa o escuro.
Não há tempestade que me derrube definitivamente. Atrás de uma lágrima vem um sorriso inevitável.
Quem sabe nao terei também um "anjo-da-guarda" bem perto de mim, oculto, mas sempre presente e atento (?).
Ouso afirmar que a sua existência é quase perceptível, independentemente do nível de credibilidade que esta afirmação possa suscitar.
Para quem não viu, fica a sugestão, já clássica, do filme: "The city of Angels" com Nicolas Cage. Marca qualquer pessoa com o mínimo de sensibilidade. Confesso que me fez chorar, sorrir, reflectir, meditar, questionar, duvidar e acreditar. Na altura, aconchegou-me a esperança de continuar mimada e apaixonada pela vida. Toda essa emoção positiva tão completa, inesperadamente despertada, ainda hoje me embala nas noites que prometem ser mal dormidas e me acorda docemente, todos os dias.

segunda-feira, junho 18, 2007

Carlota


Esta é a minha menina. Nasceu em Outubro, segundo as previsões médicas. Era uma cadelinha abandonada. Quando a fui buscar era pequenina e estava muito doente. Os outros animais, na sua jaula de precárias condições, foram-me sugeridos como objectos. Olhei para a Carlota. Lembrava-me um pouco a Janette, mas outros cães que lá insistiam em chamar-me, enchendo o ar de latidos quase desesperados, eram muito mais parecidos com a minha doce Janette. Olhei para a Carlota e solicitei que abrissem a sua jaula. O nome que lhe tinha sido atribuído era deveras estranho. Nem vale a pena referi-lo. Dá vontade de rir. Sei que Carlota também suscita um sorrisinho, por ser nome de pessoa. Na minha opinião, qualquer animal merece um nome digno. Um nome de pessoa.


Quando a vi, estava junto da sua mãe e irmã que tinha o pêlo completamente pretinho. A mãe, adoentada, com pneumonia (conforme me informaram posteriormente) e a caminho da esgana, como é usual nestes sítios, onde os surtos se espalham num piscar de olhos, exibia a mistura das cores do pêlo das filhotas. Quando peguei na Carlota, estava emocionada. Não consegui controlar-me e chorei. As saudades da Janette eram tantas e cada vez são mais. Aquela lacuna ficou para sempre. Na altura, tinham passado duas semanas após o sucedido com a minha menina. E eu, nessa altura, tinha jurado não me afeiçoar mais a nenhum animal de estimação. Impõe muita dedicação, responsabilidade, tratamentos e cuidados e, na sua eventual perda, o mundo desaba. Sofremos muito. Esse tipo de dor não se perde nunca.


Naquele momento, quando olhei para a Carlota, encantei-me de imediato pela cadelinha frágil e pequenina que se aconchegava nos meus mimos e me lambia a cara toda, de forma descontrolada. O seu pêlo era macio e lindo. Mesmo trémula, assustada, não parava de me lamber a cara.


Sentia o pulsar do seu coração pequenino nas minhas mãos. Era tão pequenina que podia segurá-la apenas numa mão. Espirrava frequentemente, aparentando estar doente, por isso insisti na consulta médica imediata, o que não ocorreu. Carlota foi assim colocada nos meus braços: doente e debilitada. Não consegui separar-me dela. Carlota escolhera-me a mim, nitidamente. Um dia a mais naquele lugar e a pequenina estaria provavelmente condenada a um destino muito doloroso. Seguiram-se internamentos, tratamentos, ansiedade e muitas lágrimas, na eminente perda de mais uma cadelinha, após uma semana de adopção, ao serem escutadas as palavras inseguras de alguns médicos que não poderiam ter a certeza se ela progrediria para a "esgana" ou não. O seu estado de saúde era incerto e, progressivamente, cada vez mais debilitado. Lutei por ela. Lutei, procurando os melhores veterinários e internamentos, tentando dar-lhe tudo o que pudesse salvá-la e essencialmente, acarinhando-a, adormecendo-a nos meus braços e cobrindo-a de mimos.
Num dos últimos internamentos, quando a fui buscar, o Dr. colocou-a nos meus braços e ela, diante de alguns familiares que me acompanharam e de algumas pessoas que estavam ali com os seus animais, ao reconhecer-me, lambeu-me de novo a cara toda, com a cauda numa agitação veloz e descontrolada, visivelmente feliz em ver-me. No espaço em que estava, toda a gente parou, inclusivé o veterinário da Carlota, surpreendido pela alegria da pequenina em rever-me, mesmo estando comigo há tão pouco tempo. Lembro-me que um dos rapazes que lá estava disse-me a sorrir, ao ver a minha atrapalhação: "Certamente, nunca levou tantos beijos assim". Eram "lambidelas", sublinhe-se. Deu-me imensa vontade de rir. A minha alegria era tamanha e a chuva de beijos da Carlota no meu rosto prolongava-se e intensificava-se, ignorando tudo e todos.


Já tem 8 meses, a minha bébé... Os dentinhos de leite que caiam da forma mais inesperada, foram quase todos substituídos pela dentição definitiva e está ficando forte, crescendo. Tantas vezes, nas suas correrias disparatadas, embatia numa cadeira e lá ficava remexendo a língua de forma estranha. Aproximava-me e tirava-lhe da boca um dente de leite, antes que se engasgasse. Frequentemente, os animais engolem os dentes de leite ou deixam-nos caídos pelo chão. Mas nesta maluquice das suas brincadeiras constantes, entende-me e mima-me de forma única. Delicia-se com os brinquedos e peluches que lhe compro e arrasta-os pelo chão como um troféu. Quando a máquina de lavar decide engoli-los por umas horas, parece que lhe arrancaram um tesouro e, sem nenhuma timidez, dá o seu escândalo canino no pequeno quintal onde brinca.
Hoje foi dia de banho, pelo que se sente o cheiro a colónia de bébé já à distância. Está linda, cheirosa, com o pêlo macio e brilhante. Carlota sabe-o e hoje está mais vaidosa do que nunca. Está se restabelecendo e, a cada recaída, luto para que seja uma cadelinha saudável, sem mais problemas e complicações. Já sofreu muito, tendo apenas 8 meses de existência.


Falo com ela como falaria com uma pessoa, explicando-lhe certas situações, ensinando-a, repetindo palavras e dando-lhe beijos a toda a hora, pelo que, muito provavelmente, os vizinhos devem julgar que sou maluca.

domingo, junho 17, 2007

Sentimentos

Não sei bem o motivo que muitas vezes leva o meu pensamento ao papel... Talvez seja todo este encadeamento de "porquês" que sublinham o meu coração; alguns arrependimentos que lutam, numa briga acesa, com as compensações recebidas. O papel serve de juíz, testemunha e cúmplice. A dicotomia do meu ser persiste. Olho em volta e constato que todos somos iguais, sobretudo os que não conseguem admiti-lo. Os sentimentos são como o sangue que nos percorre as veias e enchem de vida o coração, deixando-o bater ao compasso de um fôlego. São a nossa sobrevivência. Sem eles estaríamos definitivamente vazios, embalsamados no tempo. A transparência não é uma exigência vital. A nossa existência como pessoas, sôfregas de emoções, sim, sem dúvida que o é. Isso não se vê ao espelho. Pelo contrário, sente-se.

sábado, junho 16, 2007

Juste un petit problème...


Após esta foto de um grupo

de"chouchous",

faltam apenas 130

reclamações dos meus

restantes fofinhos não mencionados.

Está aberto o livro.

E já que vem aí uma "chuva de textos"... Podem escrevê-los em Francês.

Et vous avez juste une minute pour les écrire:

59...58...57...40...39...25...zéro...

Bah...Je vous adore pour la vie.

Ops!


Ninguém ficou esquecido no meu coração.
Estas são algumas das protagonistas mencionadas no texto "Mais um passo".
Não sei bem como essa foto da direita surgiu na minha máquina. Pestinhas. Agora reclamem...
No grupo em pose, a Tatiana é a primeira da direita para a esquerda, seguida da Susaninha, Luisinha, Petra (ou Ana Filipa? - são gémeas, por isso a distinção é tão -tão- fácil) e a Helena, atrás, tentando aparecer na foto. Quem esqueceria estes sorrisos? Sentem-se à distância. Fica o carinho para a minha querida Tatiana, para a minha querida Vanda (na foto à esquerda: a primeira niña da esquerda para a direita), e para todos os meus chouchous que, tal como elas, não mencionei no Post anterior. Todos eles ficaram no meu coração.
Ser professor também tem destas coisas:"On met les pieds dans les plats".
É o fruto natural da idade.Não se esqueçam que avancei mais um ano no tempo.


E vamos lá "fazer a ONDA"!
(...)
As "coisas" que eles me ensinam...e eu aprendo.

sexta-feira, junho 08, 2007

Mais um passo.

Hoje cheguei mais cedo que o normal. Usualmente, sou das primeiras a lá chegar, mas hoje, por ser um dia especial, cheguei ainda mais cedo. A Joaninha fazia anos e preparei-lhe algumas surpresas. A cumplicidade dos seus colegas e amigos de turma era imensurável. Às escondidas levei uma torta recheada com creme de morangos e coberta de chantilly. Passados alguns segundos após a minha entrada "clandestina", ouvi passos apressados no corredor e sussurros. Eram algumas amigas da Joaninha que vinham correndo, escondendo-se dos funcionários, fugindo às normas. A ansiedade delas era tamanha. Confesso que a minha também. O coração parecia saltar-me do peito. Entraram na sala e logo foram chegando outros, sussurrando, correndo para a sala e escondendo-se, deixando-me numa situação confituosa. Uma parte de mim sorria abertamente, enquanto que a outra, estava deveras aflita, desesperada, perante a quebra das regras estabelecidas. Susaninha olhou para mim e disse: "Parabéns, professora." Seguiu-se um daqueles abraços que mima a alma por uma eternidade. Olhei para os meus alunos e o pensamento escapou-se na mais pura honestidade das palavras: "Não me lembrava..." Realmente, naquele preciso momento ao vê-los, só pensava na chegada da Joaninha e na surpresa preparada. Não me lembrava que também eu fazia anos. Ontem, andei horas e horas procurando e pensando no que haveria de oferecer à Joaninha. Comprei-lhe um livro do Nicholas Sparks e um kit do Boticário. Queria ter oferecido prendas a todos. Os miúdos valem tudo. São como filhos. Crescem rápido. Aos meus olhos serão sempre bébés. O irmão da Joaninha também apareceu e ofereceu-se para me ajudar. Chama-se Cristiano e tem um coração do tamanho do Universo. Não ficou connosco na aula da irmã, pois frequenta outro ano.
Durante os 90 minutos de aula que se seguiram, houve lágrimas. Vi a Joaninha, uma bonequinha de sentimentos gigantes, chorar e querer escapar-se, esquivar-se, quando lhe cantámos os parabéns. Timidamente soprou as velas... O livro que lhe ofereci tinha como título: "Um momento inesquecível". E era precisamente isso que eu queria: que ela fizesse deste seu aniversário "um momento inesquecível". Joaninha chorava de emoção, visivelmente feliz.
Também eu não consegui me conter diante do que me ofereceram: as palavras mais lindas que uma professora pode receber. Pouco a pouco, surgiram postais e eu, já de coração trémulo, ao lê-los, fui deixando escapar a emoção. Li as palavras da Carolina, da Susaninha, da Marisa e da Luisinha que, no silêncio do seu lugar na sala, me observava como pessoa, desde o início do ano. As palavras da pequenina que me encantou desde sempre com o seu sorriso, foram a gota de água final. Lágrimas garantidas diante destas meninas que transbordam ternura. E o Leo que, ao entrar na sala, me entregou um pequeno saco com a sua prenda. Julguei que estava brincando comigo. Afinal, tinha mesmo escolhido algo para me oferecer neste dia. Era um porta-chaves com o meu nome. Tem sempre a capacidade incrível de me surpreender. A Micas, sempre alegre e incapaz de passar um dia sem me dar um abraço, dizia : "Professora, quer chorar? Chore. Não tem mal algum". Limitei-me a limpar as lágrimas, saltando linhas e linhas dos postais que, lidos na íntegra, traziam à flor da pele uma emoção incontrolável. Chorei, embora sorrindo... De nada servia tapar o rosto com os envelopes dos postais. Não consegui esconder os meus sentimentos, nem faria sentido algum. No final da aula, o Cristiano, também ele em vias de comemorar o seu aniversário, abordou-me de novo. Trazia um papel dobrado nas mãos e disse-me: "Isto é para si." Seguiram-se abraços e mais beijos e abraços e fotos... Uma aluna de nível mais avançado esperava por mim na porta, pois pretendia fazer teste de recuperação. Despedi-me dos meus meninos e levei-a para um local isolado onde ela poderia fazer o teste tranquilamente. Olhei para o papelinho dobrado que o Cristiano deixara nas minhas mãos e onde se lia claramente: "PARABÉNS, PROFESSORA!" Abri-o. Era um poema. Era um poema lindo, desejando-me um dia feliz e falando de mim e das minhas aulas. Carina estava concentrada, fazendo o teste. As lágrimas pediam-me licença para cair, mas o coração sorria bem mais alto. Segui o deambular da caneta da Carina e constatei que deveria ter um "Satisfaz Plenamente". Pensei no Cristiano, no Leo, na Susaninha, na Luisinha, Marisa, Ana Filipa, Micas, Petra, Vitor, Joaninha, Diogo, Marquinho, Rúben, todos, todos eles, sem excepção, (e cujos nomes não me ocorrem todos agora) e no Djinis que hoje me ensinou a dizer algumas palavras em russo.
Os sentimentos não têm nacionalidade. O calor destes alunos ficou. A ternura deles e a sua cumplicidade são memoráveis.
Não preciso celebrar um dia de aniversário, tendo tanta alegria e mimo recebidos ao longo de tantos meses e até anos. Essa é a autenticidade de uma vivência quotidiana e não de um dia apenas.
Neste ano profissional tenho vivido muitas compensações pessoais. Muitos outros anos escolares também deixaram marcas eternas. Seriam mil e uma histórias, passando por emoções e reacções diversas. Contudo, pela primeira vez, com alunos já crescidos, este ano, passei pelo inesperado. Alguns alunos, ao se despedirem de mim, choraram. Sei que, quando os vir de novo, alguns serão já adultos, homens e mulheres, casados talvez, mas no meu coração irão ser sempe os meus "chouchous" que tanta felicidade me deram, da forma mais genuína, demonstrando as suas emoções e sorrindo: esse sorriso que completa tudo e faz esquecer a dor que a vida, por vezes, provoca em cada passo dado. São estes miúdos que me ajudam a encarar a vida com outra cor, nos seus pequenos grandes gestos: quando desabafam, expondo a intimidade dos problemas familiares, falam do seu primeiro amor, das emoções novas que sentem ou simplesmente ajudam-me a apagar o quadro, levam o meu material ou ficam junto de mim, no intervalo, abdicando do seu tempo de descanso, contando o que fizeram no dia anterior, com o entusiasmo de quem parece me conhecer desde sempre.
Ser professor é isto mesmo. Não é apenas fazer funcionar a mente... é saber dar existência, sobretudo, à alma.

sexta-feira, março 09, 2007

Je suis la femme...

O dia 8 de Março traduz toda uma luta contínua de diferença de sexos...Sem qualquer pretenção feminista, registo aqui o lindo poema cantado e as vozes emotivas de Chimène Badi, Lara Fabian e Marie Fugain. O vídeo não tem grande qualidade, mas a orquestração muito bem conseguida e as vozes superam, na minha opinião, essa lacuna.Para os corajosos que lerem este poema e o sentirem...um abraço apertado.


"Face à l'indifférence,

Au silence et à la peur...

Face aux violées et aux violences,

Aux préjuges, aux prédateurs...

Face au jour qui se lève

Et prépare ses mauvais coups...

J'ai trop de feu et de sève

Pour ne pas vouloir tenir debout.


Je suis la femme,

je suis la terre.

Fertile et fière.

Je suis la flamme et l'océan...

Je suis le ventre,

je suis la mère.

la source claire de la vie,

depuis la nuit des temps.


Face au siècle qui passe,

Face a l'ombre qui m'attend,

À l'injustice rapace

Qui plane au dessus d'un enfant...

Je suis prête à me battre

Au delà de la rumeur,

à déplacer les montagnes,

à défier le mal et le malheur...

Je suis la femme,

je suis la terre,

Fertile et fière...

Je suis la flamme et l'océan.

Je suis le ventre,

je suis la mère,

la source claire de la vie

depuis la nuit des temps.


Donner, me donner, tout donner

Du rire aux larmes

M'offrir, et souffrir et pardonner

Me brûler de passion

Jusqu'à toucher le fond

Jusqu'à mourir d'aimer


Je suis la femme,

je suis la terre,

Fertile et fière...

Je suis la flamme et l'océan...

Je suis la chair où tout commence,

la différence...

Je suis l'amour contre la mort.

Je suis le rempart de l'enfance...

C'est pour que vive, la vie,

Que mon cœur bat encore...

Que mon coeur bat encore... "


M. Fugain / C. Lemesle