domingo, setembro 05, 2010

É tudo tão fácil?




Fácil? Não creio... Já por natureza  é tudo tão complicado e nós tornamos ainda mais complexo o mais pequeno detalhe, ou não seríamos seres, por vezes, masoquistas nos sentimentos.
Cheguei de Itália ainda com a cabeça a flutuar de tanta ilusão e sonho e viagem no tempo. Foi um mês de Agosto verdadeiramente fascinante. Chego a questionar-me se perdi tempo realmente ou se não terei aprendido mais uma lição de vida? Não sei. Algo devo ter retido no meu coração abalado.
O certo é que chegamos a  uma fase da nossa caminhada, em que cada degrau pode perder mais cor, parecer mais alto ou mais degradado. O grau de exigência no caminho impera, em simultâneo com a tolerância que aumenta visivelmente. Contraditório? Sempre contraditório, ou não seríamos humanos.
Como sempre falo de sentimentos e emoções que nos fuzilam de todos os ângulos, sem hipótese de fuga. É disso que, de uma forma ou de outra, se controi o meu quadro aqui. Fantasia ou não, imaginação ou não, penso que isso sim será o menos importante neste momento.
As paixões de verão são uma realidade, basta sair à rua em plena noite quente de verão e olhar em volta. Há apaixonados por todo o lado.
Nunca se sabe. Pode inclusive ser uma doença crónica sazonal, à qual seja impossível escapar. Sei lá...Incurável. Quanto a mim, sou uma eterna apaixonada por tudo o que manifesta atenção, carinho, mimo e deliciada com o charme masculino tão natural no macho latino, nada  a fazer.
Parece que também eu estou declaradamente ligada à fatalidade do Verão que me faz acreditar na felicidade, nas amizades, nas pessoas, nos sorrisos e em todo esse espírito liberal e descontraído que tosta ligeiramente não apenas a pele bronzeada, mas os neurónios, confundindo-os, retraindo o raciocínio lógico  e objectivo.
Para arejar as ideias, bem me apetecia agora sair com o carro e ir deliciar-me a ver as estrelas, purificando os pensamentos ainda confusos. 
Impossível: O verão está no fim e a noite  anda nublada. "Já não há estrelas no céu" como dita Rui Veloso. E aqui em baixo, longe do brilho dos astros, pobres humanos... Connosco, nada é fácil.

terça-feira, julho 20, 2010

Dia D


Os problemas no trabalho sucediam-se a uma velocidade sufocante. A falência da empresa estava à porta. A auto-estima afogava-se diariamente. Aliada a isto tudo, estava eu, pendurada no pescoço dele, a segunda metade da sua alma. A situação era tudo menos confortável e feliz. Passava os dias contando as horas para a sua chegada a casa, transpirado, irritado, vazio, artifical, precisando essencialmente de um banho na alma. Outrora uma pessoa tão doce, via-o agora como um fantasma sufocado, egocêntrico, fechado num egoísmo assustador, convicto de que era a vítima sofrida de um mundo que o mutilava em cada passo. Abrir a boca era sinónimo de um atentado à sua atitude. Qualquer palavra doce tinha logo a interpretação do mais acusativo possível. Era a hora de descarregar em cima de alguém, sendo que a preferência era alguém com quem a intimidade fosse estreita e sobretudo, alguém que o amasse. O alvo perfeito? Era eu, pois. E fui eu. Vi diariamente aquele homem lindo e encantador em tudo, transformar-se num ser que eu temia olhar de frente. O vazio preenchia os nossos dias, as nossas conversas, os nossos risos ocos de tudo. Pensar que, meses antes, perdia-me horas a fio olhando-o nos olhos, conhecendo-o por dentro, fazendo-o abrir as gavetas do pensamento e dos segredos mais bem guardados, num voto de confiança especial. Cumplicidade única. Pensar em tudo isso, tirava-me a lógica de qualquer quadro pintado diante dos meus olhos... Mas houve um dia, igual a tantos outros, em que o vi chegar, sorrindo, jogar-se no sofá, respirando o meu ar de mulher que ama por inteiro. Fiquei pateticamente feliz. Pensei que seria um dia especial para ambos. Nesse dia completava mais uma  primavera, mas a data do meu aniversário ficara na memória oculta, distante e esquecida, sobretudo pela pouca importância e pouca conveniência do dia. Assim foi. Por mais triste que possa parecer, esperando que um mimo saisse do bolso mais pequeno do casaco transpirado, nem um beijo recebi.

segunda-feira, julho 19, 2010

Palavras


Perco-me frequentemente na sensualidade de uma palavra que é dita quase por instinto, cheia de expressão corporal e de odor, traduzindo emoção, quase que palpitando directamente das batidas que se sentem um pouco irregulares por tudo o que é poro. Sugo essa vontade selvagem de tocar e saborear cada sílaba que se faz acompanhar de um  gesto ou de um olhar fixo, expressivo, iluminado de sensações.
Não entendo que seja possível ignorar todos estes sinais corporais, bater a porta e fechar-se na concha escura anti-social da insensibilidade. Acredito que existem máscaras. Corações frios? Não creio. Este é o meu mundo cor-de-rosa e quente. Sabe-me bem. Cheira a vida. Deixem-me sonhar enquanto posso.

quinta-feira, julho 01, 2010

Gelo

Sei que, por vezes, torna-se aparentemente confortável ser um bloco de gelo, desafiando o calor dos sentimentos que ardem em chamas agitadas, autênticas, bem à nossa volta. Rígidos, sozinhos, procuramos o conforto numa almofada vazia de emoção, nostágica, fria como uma lápide, receando derreter. O gelo conserva-se assim. Ninguém percebe a recusa fria de um carinho oferecido, seja um mimo, um pequeno gesto, uma palavra de confiança, um beijo, um afago de amor modesto que interrompe a jornada dura, um sorriso que está sempre no rosto e que é apagado e solicitado para um outro dia e uma outra hora, como que programado, na vontade cruel de que isso seja realmente possível, num momento em que dê mais jeito. Os problemas diários da vida não implicam afastar quem nos mima, de forma natural, sem sufoco, sem cobrar, sem incomodar... Pelo contrário... Essa dedicação não é digna de indiferença. Uma vez jogado no lixo, o sentimento que ferve espezinhado, desprezado, humilhado e reduzido, deixa de ter algum fundamento. Arrefece. A página do livro vira-se assim num vazio silencioso, salpicada por pequenas gotas salgadas que transbordam semi-secas, magoadas, mumificadas, criando crostas ocas, incompreendidas. O tributo ao amor e à amizade fez-se da forma mais genuína. E o livro fechou-se.

domingo, fevereiro 28, 2010

Lágrima...

Sempre me encanto com a capacidade incrível que temos para cicatrizar feridas.
Nas lágrimas que te molharam o rosto, vi exposto, sem rodeios, esse medo admitido de quem receia a solidão. Confessaste ser o teu maior medo. Nunca alguém me dissera isso assim, num mergulho simples nas palavras. Na pequena esplanada onde estávamos, os débeis raios de sol acolheram o meu soluço interior, disfarçado pelos óculos de sol. Não sentiste certamente, o tremor que me percorreu as veias. Um arrepio frio ameaçou decapitar o sorriso que cultivo. Sabes, amigo... Também eu temo essa sombra vazia. A ideia de um dia procurar um abraço em vão e apenas gesticular no vazio, aterroriza-me. Sou capaz de te empurrar pelos degraus, forçando a subida, por mais pesados que sejam os teus passos. Neste universo que abraço, estou pronta para subir a escada de novo. A queda poderá ser assustadora. Não importa, acredita. Marco os passos ao teu lado e a caminhada, a dois, compensa. 

sexta-feira, fevereiro 05, 2010

Amo-te...

Eterna amante da vida. Eterna sonhadora na caminhada. Extasiada. Horas de pensamentos doces e sonhos cor-de-rosa. Eterna adolescente apaixonada. Incompreendida na utopia, mas feliz, esperançada. Na simplicidade de quem sou, amada do modo que sou, sonhando sorrisos e sendo abraçada. A minha vida é feita de Amor, é feita de tudo e nunca de nada.

terça-feira, fevereiro 02, 2010

Mimo

A tua simples presença...é uma carícia eterna na minha auto-estima.


(Foto in www.olhares.aeiou.pt/carinho_foto2481.html)

Na tua voz

Chama o céu, a noite, as estrelas...
Chama a lua, o brilho, o silêncio...
Chama a chuva miudinha, o vento suave...
Canta e chama com eles a brisa...
Chama o orvalho que cai sereno no escuro..
Chama o canto do grilo distante...
Chama a cor do negro em fuga, errante...
Chama a silhueta da lua no mar...
Chama a noite vadia que chega..
Chama o perfume da vela acesa...
Chama o fogo intenso que dança...
Chama o meu nome perdido, apaixonado...
Chama por mim, sonhadora como sou...
Chama e canta na noite, que eu vou.

segunda-feira, fevereiro 01, 2010

Para ti...


Estou feliz. Ainda há quem acredite nas palavras que o meu pensamento joga, às cegas, neste espaço.

domingo, janeiro 31, 2010

Do lado de fora...


Correu para ver o jogo de futebol lá na TV da sala e a miúda ficou na cozinha, resmungando sozinha, batendo com um pé no chão, numa dança irritante. Pensei que iria vê-la cair da cadeira. Fez-me lembrar um puto amuado, no início de birra. De perto, assistia assim ao grande início do conflito do dia. Já era usual aquela discussão descompassada, aborrecida e corriqueira. Quanto a mim, começava a ficar farta do ambiente. Ela suspirava pronta para explodir. Saiu da cozinha cega, revoltada com o mundo e com o namorado, este último de olhar preso ao grande plasma, todo esticado no sofá, comendo batata frita de forma mecânica e com uma cerveja aos seus pés, ameaçando alagar o tapete de bambu que se exibia no centro.. Que cenário. Fiquei de fora. Isolei-me do ciúme estúpido do futebol e fui ver o jogo para casa.