sábado, dezembro 29, 2007

Entrar no ano novo a sorrir...

(Deixo-vos o meu modesto artigo de Opinião, publicado no D.N. há 4 anos atrás, mas no qual não mudaria actualmente uma única palavra... A mensagem prossegue...)
Na cozinha, o aroma a peru recheado invadia o meu cérebro de recordações. De olhos postos no forno, pensava na cirurgia complicadíssima à qual aquela ave tinha sido submetida e conseguia visualizar a autora do dito repasto, cozendo e tricotando o ventre do "bicho", após ter metido no seu interior um recheio digno dos deuses. Hum... Peru. Cheira a peru na cozinha. Num outro tabuleiro, vislumbrei a deliciosa carne de vinha-d’alhos e o apetitoso pãozinho embebido no molho. Ai, ai... Que regalo para os meus sentidos e para o apetite que avançava a passos largos na direcção do forno. Isso equivaleria, no entanto, a horas de ginásio, pedalando, pulando e fazendo exercícios de ginástica localizada repetidamente para desgastar as calorias extra, dignas do Natal.
Na sala, a algazarra de sempre. Uns falando mais alto que os outros. Alguns cantarolando. São vozes de crianças e de adultos, graves, agudas, esganiçadas e, para completar o quadro entusiástico, uma aventureira no piano, adivinhando dedo a dedo as notas de uma canção tradicional de Natal.
É dia de Festa. Sim, eu sei. Estou consciente que aqui se encontram os meus entes mais queridos, mesmo os que já não estão no nosso mundo do dia-a-dia. Hoje, aqui e agora, estão todos reunidos, como sempre acontece no Natal. Somos muitos, mas eu continuo sozinha na cozinha com o pensamento concentrado unicamente no gigantesco peru de pernas ligeiramente erguidas, parecendo fazer abdominais dentro do forno.No entanto, não era o estômago que reclamava o direito a uma dentada na carne suculenta.
Ao observá-lo, voei alto e fui até aos países de terceiro mundo, onde o Natal e o conceito de família muitas vezes não existem, porque não há condições para tal. Aí, as crianças com frio e fome, nem sabem o que é o calor de um forno exalando este irresistível perfume a comida que remonta à infância e só se sente de forma igual neste dia do ano. Era nessas crianças e adultos que eu pensava ao verificar a fartura exibida na cozinha e senti-me profundamente triste.
Há tantas ajudas humanitárias promovidas nestas alturas do ano e que pouco irão ajudar quem vive quase sem respirar ao longo do seu quotidiano, sem forças para viver e meios para subsistir, vendo os filhos e os seus familiares se esvaírem em dor, fome e mutilações de índole diversa. É justo que desfrutemos este dia junto de quem amamos. Não o condeno, logicamente. Pelo contrário, enalteço esse valor atribuído aos laços familiares que nos sustentam, como raízes biológicas e psicológicas também. Apenas sonho que este dia se repita com frequência ao longo do ano e em muitos outros lugares do nosso globo, sobretudo no coração dos Homens que nunca conheceram o espírito do Natal e que podem estar bem perto de nós, vagueando perdidos.
Ontem, saí de casa com um sorriso brilhante, rasgando o meu rosto, mas no regresso, trazia apenas uma angústia sufocante no peito. Momentos de reflexão como estes, fazem-nos partir de uma atitude passiva a uma acção mais directa, pequena ou grande (pouco importa), incidindo sobre os que mais precisam de viver o Natal respirando alegria.
Pelo caminho, cruzei com uma idosa pedindo esmola numa rua comercial do Funchal. Pouco depois, enquanto conduzia, vi um mendigo jogado sobre um passeio e um transeunte olhando-o com desprezo e repugna, fazendo um desvio enorme para não se sentir invadido por "bactérias" indesejáveis. Vi também uma família atravessando a estrada na direcção do Hospital, levando sacos de hipermercado. Relembrei-me da solidão natalícia acentuada nos hospitais, onde o frio das paredes e o cheiro a desinfectantes adivinhando soro e seringas tornam-se quase irrespiráveis, por mais esforço e sorrisos que esbocem as enfermeiras e os profissionais de saúde.
O Mundo é assim, desigual, tal como a vida. Somos todos tão diferentes, mas, no fundo, tão iguais e transparentes. A superficialidade e frieza calculistas são máscaras que se julgam modernas e dignas essencialmente de pessoas que ocupam lugares de chefia. Mera aparência. Por dentro, todos temos sentimentos, ou não passaríamos de meros "fósseis andantes" no estádio de "mortos-vivos". Não conheço nenhum "Frankenstein".
O meu sonho prossegue, mantendo os pés bem presos à terra que me viu nascer e crescer. Modestamente, nos gestos diários, continuo tentando levar o aroma e o calor do peru e das iguarias natalícias, da festa e das risadas, ao coração daqueles que desconhecem o valor do Natal.
Este ano, o Pai Natal falou comigo. Após longo diálogo fictício, vi-o brincar com a sua longa barba branca como a neve e sorrir, confiante e cúmplice. Nesse sorriso encontrei a resposta que buscava. Todos sabemos que o rumo do Novo Ano está nas nossas mãos. Se, todos juntos, soubermos cultivar autenticidade em torno de nós, pensando um pouco nos outros ao longo de todos os dias do ano, poderemos então conquistar os tais idílicos momentos felizes nas nossas vivências mais simples.
Feliz Natal! Comam o peru recheado, mas não briguem nem entrem em disputa pelo melhor vinho, pela qualidade do tempero, pela variedade de iguarias, pelo tamanho da mini-saia da Maria ou pelo modelo das botas da Joana. Comam o peru recheado, pensando que estão em família, junto de quem amam e que, no mundo, existem muitas outras famílias. Sozinhos, não somos nada nem ninguém. Sem a tua presença aqui, tu que lês estas palavras e pensas nelas, este texto não teria sentido algum. O mundo é feito de pessoas, todas elas com direito a viver. São frases que toda a gente profere, muitas vezes, sem pensar no seu conteúdo.
Sei que juntos poderemos fazer muito por um mundo melhor, começando por um sorriso, um gesto ou uma palavra de amor dirigida a um desconhecido que se cruza connosco numa passadeira, em plena avenida, com um brilho vazio e triste no olhar e um sorriso apagado. Não tenhamos receio de ajudá-lo a atravessar a rua, apenas porque o seu cheiro é diferente do nosso. Atravessemos nós também essa rua que pertence a todos e entremos no Ano Novo, com o coração a sorrir, conscientes que fizemos e faremos algo por um mundo repleto de dias de Natal.
Continua a cheirar a peru na cozinha, mas eu perdi a fome e fui para a sala, emocionada, abraçar os meus pais.

Realidades...

Para reflectir,

não só agora,

mas durante

todo o percurso

da nossa vida...

A imagem fala

por si.

A viagem do Pai do Natal...


Na rua, reinou um trovão que desenhou no céu uma espada de lua cintilante, após o seu ecoar pesado, como o de um gigante deambulando sobre as nuvens escuras. Era noite e o frio penetrava até ao mais íntimo dos sentimentos. Algo de especial parecia querer acontecer, timidamente e de forma subtil. Era quase impossível adivinhar as sombras misteriosas de um pensamento quase cego que tentava caminhar no escuro do beco, tropeçando em baldes de lixo e fazendo vir às janelas os vizinhos irritadiços. Até os gatos, dormitando nos jornais e nos restos de comida deixados ao acaso em sacos de hipermercado, enfartados, bem ceados, afastavam-se do cheiro a desconhecido e diferença que ele libertava das roupas escurecidas, da cor da sua alma, perdida ali, naquele submundo. Caminhava deixando atrás de si uma sombra, cada vez mais negra, mas avançava em direcção à luz, como na caverna de Platão, na esperança de um mundo superior. Acreditava nele e por isso nunca se deixava cair, nem mesmo quando tropeçava e escorregava nos resíduos apodrecidos. Parecia estar atravessando um bairro onde apenas residiam pessoas de um nível social elevado, com mesas bem postas e iguarias diversas, podendo usufruir do luxo de deitar sobras de comida fora, ainda dentro do prazo. Tudo isto, quem sabe, talvez, no intuito de fazer variar as ementas e evitar as refeições congeladas e aquecidas. No país onde nascera, era tudo bem diferente. Havia casas, janelas, neve, frio, luzes, gatos e lixo "verdadeiro", crianças, alegria, sons, música e movimento, risadas e brincadeiras, mas, infelizmente, havia fome também. Não sabia bem onde estava e de onde surgira aquele mundo meio sujo e escuro, onde até o lixo se exibia farto, diante da opulência das casas majestosas, debruçadas sobre becos e labirintos estranhos, intrigando-o. Tal como os gatos, ali, as pessoas pareciam nervosas, pesadas e resignadas a uma poltrona, diante da televisão. Não se ouviam risos nas ruas. As janelas reflectiam as imagens sucessivas exibidas na televisão, como que, na mudança insatisfeita e sistemática de canais, processada por um comando televisivo depositado, quase desfalecido, numas mãos tristes. Reinava o silêncio. Era ele o senhor da noite, perdido, mudo e sem cor. E o trovão voltou a soar angustiado no céu, parecendo rebentar o azul-escuro, quase negro, e desenhar um rosto desesperado nas nuvens. Foi então que viu chegar o seu trenó e as suas renas com sininhos e sorrisos. Suspirou aliviado. Pode finalmente abandonar aquele lugar frio e egoísta e voar até ao seu mundo, onde a sua roupa teria brilho e a cor vermelha do amor, onde seria chamado de Pai e esperado pelas crianças que, mais do que ninguém, respiravam esperançadas, o ar límpido do Natal.

domingo, novembro 25, 2007

Viagem de letras e sonhos

E lá vamos nós rumo ao sonho de qualquer adolescente: conhecer outros países, outras culturas, viajar...
Enquanto eterna adolescente de coração, não poderia deixar de motivar os meus alunos para esta actividade, recusando a alguns a única oportunidade que poderiam ter, nos próximos tempos, para sentir um sonho pulsar vivo nas mãos. A vida não é fácil. Sonhar é um antídoto de eficácia pouco duradoura. Concretizar um sonho é a cura. Receber um olhar pequenino que sorri feliz e acredita na cura, justifica tudo.
Visitem-nos.

domingo, setembro 16, 2007

Rasgos de sangue


Voltei de novo ao espelho e vi a sombra do passado.

Se insisto em considerá-lo História, o presente teima em reacender as cicatrizes provocadas pelo incêndio suicida. Nada derruba tanto um ser quanto um espelho quebrado, sem imagem, vazio de crenças e esperança. Pelo chão pedaços de vidro quebrados, ainda ensanguentados, sorriem com ironia. São restos de saudade que ficaram, angústias afogadas, pseudo-amizades acolhidas em mimos, raízes nulas de autencidade. Os frutos obtidos são tudo menos paixão, luz e encantamento. Já não existe espelho, nem tempo, nem vida reflectida. O sonho morreu. Ficaram as pegadas de dor, marcas de sangue escuro, solitárias, abandonadas, agora indefinidas, já secas, esmagadas contra o chão pisado e sujo.

quarta-feira, setembro 05, 2007

Banco de areia

HOJE...


perdi um dia de sorrisos de vida;
perdi um rio de lágrima sofrida;
perdi um dia de confiança garantida;
perdi uma paixão muito sentida;
perdi a palavra de amor sempre recebida;
perdi a alegria da alma criativa;
perdi o sol de timidez esbatida;
perdi a febre do sangue, comprometida:
perdi o tempo na pulsação atrevida.

HOJE...

ganhei alguma da auto-estima já esquecida;
ganhei a consciência do teatro que se diz mundano;
ganhei uma maturidade envaidecida;
ganhei a cura pela experiência vivida;

ganhei a honra na dignidade defendida;
ganhei um dia de intensa ferida, já esquecida.

HOJE...

Embati num banco de areia. Afundei.

Tudo isto perdi e ganhei.

Ficaram estrias profundas no coração,magro de decepção e vazio de solidão.

Foi declarado o meu naufrágio de sonhos.

Nem a melhor marca de sedativos
obteria esta intensidade de dicotomias.
Deveria haver o seu genérico à venda nas Farmácias.

(Resultados garantidos.)

sábado, agosto 25, 2007

Mal-me-quer, bem-me-quer, muito? pouco? ou nada?

Aproximou-se, tirando os óculos de sol lentamente do rosto. Li o seu pensamento explícito. Receei que também o meu fosse assim tão evidente. Trazia uma sede de desejo escrita nos olhos e logo que tocou no meu ombro, senti toda uma avalanche de fantasias desnudar-se, sem timidez alguma. Agarrou-me pela cintura e percebi que não havia modo de fugir àquele chamamento quase animalesco, e estranhamento tão doce. Não consegui olhá-lo nos olhos. O seu coração saltava do peito, batendo em sentido contrário ao meu. Os olhares de ciúme, curiosidade ou até de crítica de quem passava, por vezes, empurrando-nos, mergulhavam como bombas sobre nós, tentando alvejar o prazer físico, quase mágico, ali exposto. O calor dos nosso corpos fundia-se ali mesmo, publicamente, louco, insaciável e poderoso. Senti que me observava da forma mais indiscreta, com os olhos colados no meu decote, acariciando a minha pele, presa ao seu corpo como um iman. Incomodada, senti um prazer louco, intenso, ao ver o quanto o meu bronzeado lhe agradava. Estava colado a mim. Diria eu, que, naquele momento, era eu o único mundo que ele via. Iludo-me? Muito provavelmente "talvez". A vida tem destes enigmas, felizmente.

quarta-feira, agosto 22, 2007

Cetim azul


Há muito que esperava por ti. Vesti a camisola de cetim e senti o meu corpo todo vibrar com o toque do tecido maroto. Desenhava cada contorno do meu corpo, adivinhando-o, escorregadio, num azul brilhante.

Fiquei pensando no sorriso lindo que tens, perdida e deslumbrada. Escutei a palavra sempre certa que encontras. Senti o toque quente das tuas mãos. O pensamento foi deambulando pelo erotismo de quem veste a pele dos trinta. Tudo mudou e continua mudando, de forma abismal, ao compasso do tempo. A surpresa é constante. As descobertas são agradavelmente inesperadas. A idade não cansa, não pesa, não tortura, não deprime. A idade enaltece a maturidade do prazer intenso da mente e do corpo...

O sofá vermelho, convidativo, sorria, escondendo os pensamentos mais ousados. A pele brilhava sob o candeeiro de luz ténue, debruçado sobre mim. Estava quente. Todo o meu corpo parecia ferver. O creme hidratante atrevido, derretia, perfumando cada pedacinho de pele encontrado. Os poros morenos suavizados reclamavam-te, sentindo ainda o toque mágico das ondas que me tinham envolvido durante a tarde, na praia... O erotismo exalava das velas de aromas silvestres que ardiam, brincando no chão da sala. A alça da camisola de cetim deslizou pelo ombro e deixou a descoberto o bronzeado do sol.

Estava ali, distante do mundo, esperando por ti, sorrindo e acariciando o creme que derretia suavemente pelo ombro descoberto. Tudo parecia ter ganho vida naquele meu espaço. A chama das velas dançava com sensualidade esboçando sombras na parede. O cetim escorregava, teimando em desvendar a nudez macia.

Quando acordei, o sol entrava pela janela, me acarinhando. A doce luz despertou-me delicadamente. O pescoço dorido relembrou-me que adormecera, de novo, no sofá, pensando em ti.

domingo, agosto 19, 2007

XÔ!!!

Nada como uma máquina destas digitais para apanhar o que não deve...Mas não se esqueçam: recorram à alternativa mais antiga do mundo. Não há paparazzi que o tolere. Estraguem com a foto.

quarta-feira, junho 27, 2007

Anjo

Deparo-me com uma paixão eterna pela vida, por mais barreiras que encontre tapando o sol que, todos os dias, me envia um sorriso maroto, num "flirt" constante.
Não há nuvem obesa que o impeça.
As persianas do optimismo não se fecham nunca por completo.
Um raio de esperança permanece, ousado e teimoso, me aquecendo o coração.
Um fio de brisa fresca trespassa o escuro.
Não há tempestade que me derrube definitivamente. Atrás de uma lágrima vem um sorriso inevitável.
Quem sabe nao terei também um "anjo-da-guarda" bem perto de mim, oculto, mas sempre presente e atento (?).
Ouso afirmar que a sua existência é quase perceptível, independentemente do nível de credibilidade que esta afirmação possa suscitar.
Para quem não viu, fica a sugestão, já clássica, do filme: "The city of Angels" com Nicolas Cage. Marca qualquer pessoa com o mínimo de sensibilidade. Confesso que me fez chorar, sorrir, reflectir, meditar, questionar, duvidar e acreditar. Na altura, aconchegou-me a esperança de continuar mimada e apaixonada pela vida. Toda essa emoção positiva tão completa, inesperadamente despertada, ainda hoje me embala nas noites que prometem ser mal dormidas e me acorda docemente, todos os dias.

segunda-feira, junho 18, 2007

Carlota


Esta é a minha menina. Nasceu em Outubro, segundo as previsões médicas. Era uma cadelinha abandonada. Quando a fui buscar era pequenina e estava muito doente. Os outros animais, na sua jaula de precárias condições, foram-me sugeridos como objectos. Olhei para a Carlota. Lembrava-me um pouco a Janette, mas outros cães que lá insistiam em chamar-me, enchendo o ar de latidos quase desesperados, eram muito mais parecidos com a minha doce Janette. Olhei para a Carlota e solicitei que abrissem a sua jaula. O nome que lhe tinha sido atribuído era deveras estranho. Nem vale a pena referi-lo. Dá vontade de rir. Sei que Carlota também suscita um sorrisinho, por ser nome de pessoa. Na minha opinião, qualquer animal merece um nome digno. Um nome de pessoa.


Quando a vi, estava junto da sua mãe e irmã que tinha o pêlo completamente pretinho. A mãe, adoentada, com pneumonia (conforme me informaram posteriormente) e a caminho da esgana, como é usual nestes sítios, onde os surtos se espalham num piscar de olhos, exibia a mistura das cores do pêlo das filhotas. Quando peguei na Carlota, estava emocionada. Não consegui controlar-me e chorei. As saudades da Janette eram tantas e cada vez são mais. Aquela lacuna ficou para sempre. Na altura, tinham passado duas semanas após o sucedido com a minha menina. E eu, nessa altura, tinha jurado não me afeiçoar mais a nenhum animal de estimação. Impõe muita dedicação, responsabilidade, tratamentos e cuidados e, na sua eventual perda, o mundo desaba. Sofremos muito. Esse tipo de dor não se perde nunca.


Naquele momento, quando olhei para a Carlota, encantei-me de imediato pela cadelinha frágil e pequenina que se aconchegava nos meus mimos e me lambia a cara toda, de forma descontrolada. O seu pêlo era macio e lindo. Mesmo trémula, assustada, não parava de me lamber a cara.


Sentia o pulsar do seu coração pequenino nas minhas mãos. Era tão pequenina que podia segurá-la apenas numa mão. Espirrava frequentemente, aparentando estar doente, por isso insisti na consulta médica imediata, o que não ocorreu. Carlota foi assim colocada nos meus braços: doente e debilitada. Não consegui separar-me dela. Carlota escolhera-me a mim, nitidamente. Um dia a mais naquele lugar e a pequenina estaria provavelmente condenada a um destino muito doloroso. Seguiram-se internamentos, tratamentos, ansiedade e muitas lágrimas, na eminente perda de mais uma cadelinha, após uma semana de adopção, ao serem escutadas as palavras inseguras de alguns médicos que não poderiam ter a certeza se ela progrediria para a "esgana" ou não. O seu estado de saúde era incerto e, progressivamente, cada vez mais debilitado. Lutei por ela. Lutei, procurando os melhores veterinários e internamentos, tentando dar-lhe tudo o que pudesse salvá-la e essencialmente, acarinhando-a, adormecendo-a nos meus braços e cobrindo-a de mimos.
Num dos últimos internamentos, quando a fui buscar, o Dr. colocou-a nos meus braços e ela, diante de alguns familiares que me acompanharam e de algumas pessoas que estavam ali com os seus animais, ao reconhecer-me, lambeu-me de novo a cara toda, com a cauda numa agitação veloz e descontrolada, visivelmente feliz em ver-me. No espaço em que estava, toda a gente parou, inclusivé o veterinário da Carlota, surpreendido pela alegria da pequenina em rever-me, mesmo estando comigo há tão pouco tempo. Lembro-me que um dos rapazes que lá estava disse-me a sorrir, ao ver a minha atrapalhação: "Certamente, nunca levou tantos beijos assim". Eram "lambidelas", sublinhe-se. Deu-me imensa vontade de rir. A minha alegria era tamanha e a chuva de beijos da Carlota no meu rosto prolongava-se e intensificava-se, ignorando tudo e todos.


Já tem 8 meses, a minha bébé... Os dentinhos de leite que caiam da forma mais inesperada, foram quase todos substituídos pela dentição definitiva e está ficando forte, crescendo. Tantas vezes, nas suas correrias disparatadas, embatia numa cadeira e lá ficava remexendo a língua de forma estranha. Aproximava-me e tirava-lhe da boca um dente de leite, antes que se engasgasse. Frequentemente, os animais engolem os dentes de leite ou deixam-nos caídos pelo chão. Mas nesta maluquice das suas brincadeiras constantes, entende-me e mima-me de forma única. Delicia-se com os brinquedos e peluches que lhe compro e arrasta-os pelo chão como um troféu. Quando a máquina de lavar decide engoli-los por umas horas, parece que lhe arrancaram um tesouro e, sem nenhuma timidez, dá o seu escândalo canino no pequeno quintal onde brinca.
Hoje foi dia de banho, pelo que se sente o cheiro a colónia de bébé já à distância. Está linda, cheirosa, com o pêlo macio e brilhante. Carlota sabe-o e hoje está mais vaidosa do que nunca. Está se restabelecendo e, a cada recaída, luto para que seja uma cadelinha saudável, sem mais problemas e complicações. Já sofreu muito, tendo apenas 8 meses de existência.


Falo com ela como falaria com uma pessoa, explicando-lhe certas situações, ensinando-a, repetindo palavras e dando-lhe beijos a toda a hora, pelo que, muito provavelmente, os vizinhos devem julgar que sou maluca.

domingo, junho 17, 2007

Sentimentos

Não sei bem o motivo que muitas vezes leva o meu pensamento ao papel... Talvez seja todo este encadeamento de "porquês" que sublinham o meu coração; alguns arrependimentos que lutam, numa briga acesa, com as compensações recebidas. O papel serve de juíz, testemunha e cúmplice. A dicotomia do meu ser persiste. Olho em volta e constato que todos somos iguais, sobretudo os que não conseguem admiti-lo. Os sentimentos são como o sangue que nos percorre as veias e enchem de vida o coração, deixando-o bater ao compasso de um fôlego. São a nossa sobrevivência. Sem eles estaríamos definitivamente vazios, embalsamados no tempo. A transparência não é uma exigência vital. A nossa existência como pessoas, sôfregas de emoções, sim, sem dúvida que o é. Isso não se vê ao espelho. Pelo contrário, sente-se.

sábado, junho 16, 2007

Juste un petit problème...


Após esta foto de um grupo

de"chouchous",

faltam apenas 130

reclamações dos meus

restantes fofinhos não mencionados.

Está aberto o livro.

E já que vem aí uma "chuva de textos"... Podem escrevê-los em Francês.

Et vous avez juste une minute pour les écrire:

59...58...57...40...39...25...zéro...

Bah...Je vous adore pour la vie.

Ops!


Ninguém ficou esquecido no meu coração.
Estas são algumas das protagonistas mencionadas no texto "Mais um passo".
Não sei bem como essa foto da direita surgiu na minha máquina. Pestinhas. Agora reclamem...
No grupo em pose, a Tatiana é a primeira da direita para a esquerda, seguida da Susaninha, Luisinha, Petra (ou Ana Filipa? - são gémeas, por isso a distinção é tão -tão- fácil) e a Helena, atrás, tentando aparecer na foto. Quem esqueceria estes sorrisos? Sentem-se à distância. Fica o carinho para a minha querida Tatiana, para a minha querida Vanda (na foto à esquerda: a primeira niña da esquerda para a direita), e para todos os meus chouchous que, tal como elas, não mencionei no Post anterior. Todos eles ficaram no meu coração.
Ser professor também tem destas coisas:"On met les pieds dans les plats".
É o fruto natural da idade.Não se esqueçam que avancei mais um ano no tempo.


E vamos lá "fazer a ONDA"!
(...)
As "coisas" que eles me ensinam...e eu aprendo.

sexta-feira, junho 08, 2007

Mais um passo.

Hoje cheguei mais cedo que o normal. Usualmente, sou das primeiras a lá chegar, mas hoje, por ser um dia especial, cheguei ainda mais cedo. A Joaninha fazia anos e preparei-lhe algumas surpresas. A cumplicidade dos seus colegas e amigos de turma era imensurável. Às escondidas levei uma torta recheada com creme de morangos e coberta de chantilly. Passados alguns segundos após a minha entrada "clandestina", ouvi passos apressados no corredor e sussurros. Eram algumas amigas da Joaninha que vinham correndo, escondendo-se dos funcionários, fugindo às normas. A ansiedade delas era tamanha. Confesso que a minha também. O coração parecia saltar-me do peito. Entraram na sala e logo foram chegando outros, sussurrando, correndo para a sala e escondendo-se, deixando-me numa situação confituosa. Uma parte de mim sorria abertamente, enquanto que a outra, estava deveras aflita, desesperada, perante a quebra das regras estabelecidas. Susaninha olhou para mim e disse: "Parabéns, professora." Seguiu-se um daqueles abraços que mima a alma por uma eternidade. Olhei para os meus alunos e o pensamento escapou-se na mais pura honestidade das palavras: "Não me lembrava..." Realmente, naquele preciso momento ao vê-los, só pensava na chegada da Joaninha e na surpresa preparada. Não me lembrava que também eu fazia anos. Ontem, andei horas e horas procurando e pensando no que haveria de oferecer à Joaninha. Comprei-lhe um livro do Nicholas Sparks e um kit do Boticário. Queria ter oferecido prendas a todos. Os miúdos valem tudo. São como filhos. Crescem rápido. Aos meus olhos serão sempre bébés. O irmão da Joaninha também apareceu e ofereceu-se para me ajudar. Chama-se Cristiano e tem um coração do tamanho do Universo. Não ficou connosco na aula da irmã, pois frequenta outro ano.
Durante os 90 minutos de aula que se seguiram, houve lágrimas. Vi a Joaninha, uma bonequinha de sentimentos gigantes, chorar e querer escapar-se, esquivar-se, quando lhe cantámos os parabéns. Timidamente soprou as velas... O livro que lhe ofereci tinha como título: "Um momento inesquecível". E era precisamente isso que eu queria: que ela fizesse deste seu aniversário "um momento inesquecível". Joaninha chorava de emoção, visivelmente feliz.
Também eu não consegui me conter diante do que me ofereceram: as palavras mais lindas que uma professora pode receber. Pouco a pouco, surgiram postais e eu, já de coração trémulo, ao lê-los, fui deixando escapar a emoção. Li as palavras da Carolina, da Susaninha, da Marisa e da Luisinha que, no silêncio do seu lugar na sala, me observava como pessoa, desde o início do ano. As palavras da pequenina que me encantou desde sempre com o seu sorriso, foram a gota de água final. Lágrimas garantidas diante destas meninas que transbordam ternura. E o Leo que, ao entrar na sala, me entregou um pequeno saco com a sua prenda. Julguei que estava brincando comigo. Afinal, tinha mesmo escolhido algo para me oferecer neste dia. Era um porta-chaves com o meu nome. Tem sempre a capacidade incrível de me surpreender. A Micas, sempre alegre e incapaz de passar um dia sem me dar um abraço, dizia : "Professora, quer chorar? Chore. Não tem mal algum". Limitei-me a limpar as lágrimas, saltando linhas e linhas dos postais que, lidos na íntegra, traziam à flor da pele uma emoção incontrolável. Chorei, embora sorrindo... De nada servia tapar o rosto com os envelopes dos postais. Não consegui esconder os meus sentimentos, nem faria sentido algum. No final da aula, o Cristiano, também ele em vias de comemorar o seu aniversário, abordou-me de novo. Trazia um papel dobrado nas mãos e disse-me: "Isto é para si." Seguiram-se abraços e mais beijos e abraços e fotos... Uma aluna de nível mais avançado esperava por mim na porta, pois pretendia fazer teste de recuperação. Despedi-me dos meus meninos e levei-a para um local isolado onde ela poderia fazer o teste tranquilamente. Olhei para o papelinho dobrado que o Cristiano deixara nas minhas mãos e onde se lia claramente: "PARABÉNS, PROFESSORA!" Abri-o. Era um poema. Era um poema lindo, desejando-me um dia feliz e falando de mim e das minhas aulas. Carina estava concentrada, fazendo o teste. As lágrimas pediam-me licença para cair, mas o coração sorria bem mais alto. Segui o deambular da caneta da Carina e constatei que deveria ter um "Satisfaz Plenamente". Pensei no Cristiano, no Leo, na Susaninha, na Luisinha, Marisa, Ana Filipa, Micas, Petra, Vitor, Joaninha, Diogo, Marquinho, Rúben, todos, todos eles, sem excepção, (e cujos nomes não me ocorrem todos agora) e no Djinis que hoje me ensinou a dizer algumas palavras em russo.
Os sentimentos não têm nacionalidade. O calor destes alunos ficou. A ternura deles e a sua cumplicidade são memoráveis.
Não preciso celebrar um dia de aniversário, tendo tanta alegria e mimo recebidos ao longo de tantos meses e até anos. Essa é a autenticidade de uma vivência quotidiana e não de um dia apenas.
Neste ano profissional tenho vivido muitas compensações pessoais. Muitos outros anos escolares também deixaram marcas eternas. Seriam mil e uma histórias, passando por emoções e reacções diversas. Contudo, pela primeira vez, com alunos já crescidos, este ano, passei pelo inesperado. Alguns alunos, ao se despedirem de mim, choraram. Sei que, quando os vir de novo, alguns serão já adultos, homens e mulheres, casados talvez, mas no meu coração irão ser sempe os meus "chouchous" que tanta felicidade me deram, da forma mais genuína, demonstrando as suas emoções e sorrindo: esse sorriso que completa tudo e faz esquecer a dor que a vida, por vezes, provoca em cada passo dado. São estes miúdos que me ajudam a encarar a vida com outra cor, nos seus pequenos grandes gestos: quando desabafam, expondo a intimidade dos problemas familiares, falam do seu primeiro amor, das emoções novas que sentem ou simplesmente ajudam-me a apagar o quadro, levam o meu material ou ficam junto de mim, no intervalo, abdicando do seu tempo de descanso, contando o que fizeram no dia anterior, com o entusiasmo de quem parece me conhecer desde sempre.
Ser professor é isto mesmo. Não é apenas fazer funcionar a mente... é saber dar existência, sobretudo, à alma.

sexta-feira, março 09, 2007

Je suis la femme...

O dia 8 de Março traduz toda uma luta contínua de diferença de sexos...Sem qualquer pretenção feminista, registo aqui o lindo poema cantado e as vozes emotivas de Chimène Badi, Lara Fabian e Marie Fugain. O vídeo não tem grande qualidade, mas a orquestração muito bem conseguida e as vozes superam, na minha opinião, essa lacuna.Para os corajosos que lerem este poema e o sentirem...um abraço apertado.


"Face à l'indifférence,

Au silence et à la peur...

Face aux violées et aux violences,

Aux préjuges, aux prédateurs...

Face au jour qui se lève

Et prépare ses mauvais coups...

J'ai trop de feu et de sève

Pour ne pas vouloir tenir debout.


Je suis la femme,

je suis la terre.

Fertile et fière.

Je suis la flamme et l'océan...

Je suis le ventre,

je suis la mère.

la source claire de la vie,

depuis la nuit des temps.


Face au siècle qui passe,

Face a l'ombre qui m'attend,

À l'injustice rapace

Qui plane au dessus d'un enfant...

Je suis prête à me battre

Au delà de la rumeur,

à déplacer les montagnes,

à défier le mal et le malheur...

Je suis la femme,

je suis la terre,

Fertile et fière...

Je suis la flamme et l'océan.

Je suis le ventre,

je suis la mère,

la source claire de la vie

depuis la nuit des temps.


Donner, me donner, tout donner

Du rire aux larmes

M'offrir, et souffrir et pardonner

Me brûler de passion

Jusqu'à toucher le fond

Jusqu'à mourir d'aimer


Je suis la femme,

je suis la terre,

Fertile et fière...

Je suis la flamme et l'océan...

Je suis la chair où tout commence,

la différence...

Je suis l'amour contre la mort.

Je suis le rempart de l'enfance...

C'est pour que vive, la vie,

Que mon cœur bat encore...

Que mon coeur bat encore... "


M. Fugain / C. Lemesle

domingo, fevereiro 11, 2007

Tellement beau...

Chimène Badi (Dezembro de 2006, Paris)

Soufflent les nuages de ma vie

Tournent les mirages et le vent ce soir

Quelques pages d’un songe de fille brillent

sur la toile comme un rêve d’enfant

Tellement Beau,

la vie m’a ouvert les bras comme si

comme si un ange était là vous ici,

vous êtes en bas ce qui brille de là-haut

mon courage, mon sourire, toute ma vie

Tellement Beau

Mourir dans le sable de l’ennui

J’ai chanté dans le noir si fort ce soir

Les formules magiques quand je chante

Les larmes de mes rêves d’enfant

Tellement Beau,

la vie m’a ouvert les bras comme si

comme si un ange était là vous ici,

vous êtes en bas ce qui brille de là-haut

mon courage, mon sourire toute ma vie

ce que j’aime,quand je crie

Tellement Beau …

Tellement Beau …

Et qu’importe les rires et les efforts

quand je chante je fais brûler mon âme

tout en haut sur les toits et le ciel

Tout en haut

Tout en haut

Qui brille là-haut

mon courage, mon sourire,

toute ma vie

Tellement Beau,

Comme si un ange était là ……

vous ici

Qui colle à ma peau

mon courage, mon sourire, toute ma vie

Oh que j’aime,quand je crie

Tellement Beau

Tu as rempli de joie toute ma vie !

sábado, fevereiro 03, 2007

Carta a um amigo


Esta era a Janette...
Aqui ainda bébé...
Tinha menos de um ano.
Estava em cima
de um armário pequeno...
Queria descer...
A altura era um desafio.
Lembro-me bem
do quanto resmungava...


A minha menina... já com os seus seis aninhos...

Pronta para dormir... Natal 2003...

Linda... dócil...sempre feliz...
Aqui muito concentrada num osso de mascar...


(...) Para massacrar o meu coração, o início do ano começou com a perda da minha "menina", há 10 anos existente na minha vida: uma cadelinha que parece ter vivido comigo a vida inteira. Presenciou todas as minhas alegrias e tristezas e estava sempre ao meu lado. Chorava quando eu chorava, brincava comigo, sempre bem disposta e alegre, sempre junto de mim. Nunca adormecia sem que eu a abafasse com o seu cobertor, lhe desse palmadinhas no rabinho para adormecer, com a cabeça sobre a almofada de bébé ou peluche, deitada na alcofa junto à janela do meu quarto. Foi assim que ela partiu deste nosso mundo, nessa posição...com o seu peluche...Quando ela estava doente ou tinha pesadelos, tinha de ser acordada com cuidado e lá estava eu, junto dela, acalmando ou sendo enfermeira. Falava muito com ela e se que muito do que lhe dizia ela percebia. Cumplicidade por mim nunca antes experimentada com um animal de estimação. Tinha o cesto dos seus brinquedos, peluches, o tapete da Disney, as suas alcofas, e colchões e cobertores anti-alergicos, os seus recipientes para comer todos na moda, produtos de higiene dignos dela e bebia água mineral apenas e comida especial para dieta renal. Tinha tudo o que eu lhe podia dar e por vezes até nem podia, mas tinha de dar. A família toda sempre lhe deu brinquedos. Lembro-me que em bébé, recebeu do meu irmao um osso maior que ela...e mesmo assim, lá ia ela, arrastando-o por todo o lado, fazendo-nos rir... Sempre leva-a às consultas de acompanhamento para controlar a sua saúde e ela, sempre carinhosa, diante do seu médico abanava a sua cauda, mesmo quando estava doentinha. Nunca mordeu ninguém. A casota dela foi pintada por mim com desenhos de pegadas e cores bem vivas. E ela adorava tudo isso...Tudo isso ela agradecia, porque aprendeu a deleitar-se com estes mimos e este conforto, apesar disso não ser tudo ou não ser mesmo nada diante do amor que tinha por ela e ela por mim. Antigamente riam-se desta ligação entre os humanos e os animais...Hoje respeitam-se, pois quase todos nós já perdemos um animal que amavamos mesmo e sabemos o quanto doi.Tinha nome de pessoa, porque era para mim uma pessoa. Era a Janette. Uma rafeirinha que surgiu na minha vida num período em que me sentia muito só. Lembro-me do dia em que a vi pela primeira vez e passou a noite chorando com saudades da mãe, acabando por dormir, ao lado da minha cama, com a minha mão a acarinhá-la. Partiu, de repente, quase nos meus braços. Teve um AVC, cujo pico foi mesmo nas minhas mãos. Com os cuidados médicos e no conforto da sua alcofa, conseguiu sobreviver quase 24 horas. Mesmo durante esse pequeno período de dramatismo profundo, soube comunicar comigo, chamando por mim e pelo meus mimos... que agora parecem-me tão poucos... O sucedido caiu como uma bomba no meu peito. Veio alterar tudo. Veio alterar a minha rotina. O vazio da sua ausência ficou marcado para sempre.
Desculpa o desabafo.
Acordei com esta vontade.
Vontade de ter um amigo por perto.