Há já algum tempo que aprendera a gatinhar. Notara que a vida ao seu lado era distante e fria e tornou-se mórdiba quando o depositaram junto a um depósito de lixo. O ar estava quente e abafado. Nesse momento, um cheiro a sujidade e comida podre invadiu-lhe o nariz pequenino e os seus pulmões mostraram o poder do seu choro. E chorou. Chorou tanto que as luzes do beco acenderam-se uma a uma e alguém numa janela gritou, jogando um objecto cujo impacto no solo trouxe-o à realidade do mundo enorme que o rodeava e sentiu medo de tudo. O seu choro não cessou. Em pijama, meia adormecida, continuei descendo as escadas, tropeçando, descalça, na minha própria agonia. O elevador estava avariado. Descia do quinto andar, numa ânsia profunda de acarinhar as lágrimas de solidão que ecoavam no beco, batendo no fundo da minha alma. Cheguei junto dele e baixei-me. Era o bébé mais lindo que alguma vez vira. Quando se apercebeu da minha presença, cessou o choro angustiado e sorriu. Sorriu seguindo a emoção dos meus olhos. Tinha uns olhos lindos, sorridentes, mais verdes que um campo de erva acabado de receber água dos céus. A lua acarinhava aquele corpinho trémulo e assustado, implorando protecção. Peguei-o nos braços, encostei-o ternamente ao peito e foi assim que a vida me deu um filho. |
terça-feira, novembro 22, 2005
Um choro no beco...
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