sexta-feira, outubro 01, 2004

Desejo na ponta dos dedos

Olhei para os meus dedos aqui sobre o teclado. Curiosamente pareceram-me bonitos e mais ágeis que o meu pensamento. É um dos mais belos dotes físicos do ser humano... Permitem acariciar, acarinhar, dar mimos e um simples deslizar pelo rosto de quem se ama, ou um mergulhar nos cabelos acabadinhos de cortar à màquina, traz aos dedos uma sensibilidade erótica única, repleta de desejo, inundada numa vontade inadiável de continuar brincando com os sentidos e arrepiar o corpo todo de imediato... Sei que gostas. Quanto a mim, confesso que adoro.


3 comentários:

Sandra M. S. Sousa disse...

AH, sua marota!
Sim há coisas inesperadamente simples às quais muitas vezes não damos importância que saõ realmente belas...

Anónimo disse...

Esta é para ti, meus olhos verdes! Vem-me à cabeça que "as palavras já estão gastas, meu amor e os teus olhos já não são dois peixes verdes". Eugénio de Andrade enganou-se. As palavras não estão gastas. Apenas cansadas, doridas, conscientes da sua inutilidade. Pesam-ne, no entanto, quando vagueiam sem destino no meu corpo. Doem-me, de tanto me possuirem. Quisera gritá-las. Abanar-te com a sua força. Mostrar-te o quanto me doem, porque caladas, sofridas. Esse teu mistério também me fascinou. Ainda hoje o não consigo desvendar. Essa a maior tortura. A causa desta ansiedade. Por que ficas? Que te mantem a meu lado? Tão doce, aparentemente doce, mas tão frio e calculista. 2005 está chegando ao fim. Ao fim, chegou já a minha tolerância, a minha força, a esperança de que mudes. Para mim está decidido. Só uma dúvida existencial me tolhe os passos ainda: passar ou não o Natal contigo. Por mim é "não", que esse momento é lindo e não deve ser vivido de forma falsa. Há laços externos, no entanto, que me amarram. Não gostaria de dar essa prenda tão triste a quem nos ama. É só isso que me tolhe. Talvez te deixe ficar mais um instante. Dói-me a antecipação do gesto. Preferiria apressá-lo. A dor do que já passou dói menos do que a dor adivinhada ou do que esta dor que sinto por saber que, afinal, ainda não foi desta. Amo-te. Apesar de tudo, amo-te. Não ficarei, contudo, com meias verdades. Nunca chegaste a mostrar-me o teu "lado lunar" e são essas sombras que nos afastam agora. Vai em busca das palavras. Sempre te fascinaram. Vai!

Annaisa disse...

"Anonymus", o teu texto arrepiou-me... Está lindo e repleto de emoção. Presumo que sejas mulher pela forma como referes o tu a quem te diriges ("Por que ficas? Que te mantem a meu lado? Tão doce, aparentemente doce, mas tão frio e calculista.")Colocáste-o aqui, na sequência de um pensamento meu que designei "desejo na ponta dos dedos". Sabes...viver com alguém frio junto de nós, não é viver; mas viver sozinha é o pior dos dramas da vida... E a vida é isto mesmo: um eterno dilema (embora saibamos que o amor só se vive de verdade se for partilhado e recíproco). Mas ouve....escuta o Natal a chegar...Ele aproxima-se e quer abraçar-nos com os sentimentos mais profundos e bonitos que invadem o nosso coração. Não desistas do teu sonho se amas tanto quem dizes. As pessoas mudam. Nem sempre, nós somos os mais correctos também. Luta pelo que queres com a mesma autenticidade que tiveste a coragem de deixar a tua mente divagar aqui neste meu cantinho. Obrigada...Volta mais vezes e não precisas cair no anonimato.Tens muito para dar e mostrar. Um abraço.