quinta-feira, março 04, 2004

Estacionamento "auxiliado"

Estacionar na nossa cidade é frequentemente um problema que nos deixa com os cabelos em pé ou com o cronómetro ligado, pretendendo controlar os gastos exacerbados num simples “parking” comercial. Este é o luxo de quem se habitua a levar o carro até à porta do local de trabalho ou até ao seu ponto de visita, argumentando a escassez do tempo para realizar toda a lista “urgente” de tarefas agendadas para esse dia, essa hora e esse preciso momento.
Poderemos igualmente optar pelos estacionamentos acolhidos pela maresia, na Avenida das Comunidades Madeirenses, onde seremos recebidos por um “auxiliar” que nos ajuda não só a suportar o tempo de espera por uma provável vaga, como também nos sorri abertamente, acalmando a agonia e a ansiedade crescentes, suscitadas pela situação.
No entanto, é impensável não simpatizar com alguns destes “profissionais” sorridentes que, diante de um teimoso “ Não poderei esperar...” (proferido num tom frio e quase desprezível) oferecem um sorriso delicado. Revelando uma educação exemplar, respondem: “Que pena, Sra. Para a próxima terá mais sorte”. Se, porventura, insistem, fazem-no subtilmente e sem demasia.
Esta é uma situação que já vivi na pele muitas e muitas vezes. Não consigo deixar de simpatizar com aqueles rostos cansados que disputam o território destinado aos estacionamentos. Dou-lhes sempre uma moeda. Não me refiro a quantias elevadas. Neste gesto, não visto o tradicional receio de que me danifiquem a viatura, mas pretendo agradecer o sorriso oferecido e a delicadeza das palavras.
Pelos sorrisos e afagos psicológicos oferecidos durante a espera desesperada nesses parques, os referidos “auxiliares”, portadores das características mencionadas, mereciam mais que o licenciamento proposto pelo Presidente da Câmara de Lisboa: uma “medalha”, talvez.
Devemos relembrar que, muitas vezes, são eles os alvos dos desabafos pouco civilizados dos condutores sempre apressados e usualmente irritadiços. Independentemente da legalização ou não da actividade de arrumador de carros, qualquer ser humano merece ser respeitado. Pensem bem: custa tão pouco retribuir um sorriso e o papel de “vítima assustada” parece estar já tão fora de moda nestes casos.

(Publicado no "Diário de Notícias" de 28 de Fevereiro de 2004)

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