segunda-feira, setembro 04, 2006

Bolachas de água e sal


Chamava-se "Nina". Pelo menos entendi de apelidá-la dessa forma, assim que a vi. Era linda. Sempre pontual, aparecia no beiral da varanda onde se ouvia o alvoroço da criançada na piscina. E ficava ali olhando para nós, com ar faminto e agradecida. Comia duas ou três bolachas de água e sal e saia feliz, esvoaçando sobre a confusão entusiástica, lá em baixo, onde os corpos mais que bronzeados se refrescavam.
Sempre que a via chegar, falava com ela. No quarto, ouvia-te vasculhar a máquina fotográfica. "Nina" ficava ali posando, ouvindo o meu tom doce, quase que a abraçando e ignorando os flashs sequenciais que disparavas, maravilhado. Não fugia de nós. Estava habituada, como se nos tivesse conhecido a vida toda.
Emocionava-me a ternura da "Nina", cada detalhe do seu corpo e dos seus gestos, comendo delicadamente as bolachas de água e sal, esmagadas sobre o cimento cinzento do muro.

Sem comentários: