
terça-feira, dezembro 12, 2006
Sinto-te.

segunda-feira, dezembro 11, 2006
Gatinho!
sábado, dezembro 09, 2006
Almas gêmeas.

sexta-feira, dezembro 08, 2006
segunda-feira, setembro 04, 2006
Bolachas de água e sal

Chamava-se "Nina". Pelo menos entendi de apelidá-la dessa forma, assim que a vi. Era linda. Sempre pontual, aparecia no beiral da varanda onde se ouvia o alvoroço da criançada na piscina. E ficava ali olhando para nós, com ar faminto e agradecida. Comia duas ou três bolachas de água e sal e saia feliz, esvoaçando sobre a confusão entusiástica, lá em baixo, onde os corpos mais que bronzeados se refrescavam.
segunda-feira, junho 26, 2006
Reflexos

- Tens a certeza que não estás acrescentando nada ao guião?
Susana meteu-lhe a mão sobre os ombros.
- Nadinha. Estou simplesmente sentindo o texto.
Cristina permaneceu na dúvida. A emoção da amiga parecia tão real que até lhe dera um calafrio. Susana ficou no relvado, embriagada no texto que decorara. Cristina afastou-se. Continuava visivelmente apreensiva. Sentia o ciúme e a raiva, até nos gestos minúsculos de Susana, recortados pela sombra das árvores já distantes...
Deslizou os dedos suavemente pela água morna da lagoa, murmurando:"Isto é teatro puro, nada mais. Susana é uma actriz... Está apenas representando."
Era assustadoramente parecida comigo, em tudo e em nada. A dança com os dedos na água calma da lagoa, acelerou, esboçando círculos, numa valsa perdida. Senti a indefinição do contorno dos meus traços, presa na sua imagem. Ainda consegui espreitá-la, na confusão das águas turvas, endireitando os cabelos louros, com ar pseudo-altivo que não escondia a ninguém a humildade, desenhada, exposta no rosto, ligeiramente perturbado.
Afastou-se da lagoa e eu fiquei ali, escondida no escuro do lodo sedentário, esperando pelo dia seguinte, presa no medo de não voltar a ver o meu reflexo.
sábado, março 18, 2006
Éternité...

Ça fait longtemps que je n'écris ni une ligne sur ce petit coin de mon coeur ni un tout petit mot... Ça fait longtemps que j'ai perdu les rêves et l' espoir d'être ce quelqu'un que j'ai toujours fait semblant d'être... Ça fait longtemps que je me suis perdue dans l'espace inconnu de mon âme, comme un fantôme qui parcourt les couloirs de son chemin vivant... Pour le moment, je ne sais que ça fait longtemps... Ça fait longtemps que j'ai fermé les yeux à la vie et que je me suis transformée dans une ombre silencieuse, angoissée à cause d'un cri de vie, étouffé dans ma mémoire, morte, devant toi. Ça fait vraiment longtemps... |
sexta-feira, fevereiro 17, 2006
Espelho do tempo

A vida é isto mesmo. É feita de traços que se descobrem de forma ilógica aparentemente e que escondem o ego acorrentado de um personagem visualizado algures, encarnado agora, fruto de carências afectivas transpostas num espelho quebrado em pedaços... A vida é isto mesmo. É um tempo (in) completo onde ficamos pisando os pedaços de um espelho que deixa morrer uma imagem sentida e impossível de ser colorida pelos olhos, sem medo de deixar sangrar as feridas que se rasgam na pele, desenhando cicatrizes, com a certeza de que as farpas de vidro perdidas, apenas ali ficaram, abandonadas num espaço que nunca existiu. A vida é isto mesmo: algo que não se compreende, apesar da sua transparência sempre evidente. É sangue, céu, mar, guerra, verde, azul, núvem, árvore, flor, sorrisos, lágrimas, dor, enigma, espelho que se vê, toca, sente e até cheira, de olhos fechados, mesmo quando desfeito em pedaços. A vida é isto mesmo, por isso dá tanto gozo vivê-la. |
sábado, janeiro 28, 2006
Imagina.

- Faz como eu.... Escreve e desabafa para o papel, os sentimentos que nunca tiveste e as histórias que nunca viveste. - Mas pareces tu, Ana... -Achas que sim? Partilhas a teoria de que também encontrei uma criança abandonada e adoptei-a. Achas que ganhei um Diário Íntimo de alguém que morreu? Achas que devoro chocolate? Catarina calou-se. Sabia bem que eu era alérgica a chocolate e que estava longe de ser mãe. - Mas... O seu pensamento foi cortado pelo amontoado visível de ideias que explodiam em si. Calou-se novamente. Dei-lhe um abraço apertado. - Minha pequenina, estou bem. Catarina, as palavras estão vivas em mim. Alimento-me delas e vivo-as intensamente. Não tentes encontrar explicação para o que escrevo. Quero que sintas e se duvidares... é sinal que consegui o que queria: escrever de forma tão real, capaz de te confundir, despertando questões em ti, vivendo o meu texto. Esse, Catarina, é o verdadeiro objectivo de quem escreve...Fazer com que as suas palavras sejam engolidas por inteiro, que os olhos saltem de linha, ansiosos, sofregos, isolando-se do exterior, mesmo que passe junto de ti um autocarro, um carro de bombeiros, um grupo de turistas barulhentos e tu permaneças sentada, lendo, num mundo mágico que só tu conheces, agarrada ao texto que vais desvendando com curiosidade. Nem mesmo nas pessoas que escrevem o seu diário, o decalque existe, Catarina. De uma forma ou de outra, a imaginação acrescenta pedaços de história que nunca aconteceram. O prazer da escrita reside nisso. Maria aproximou-se com um sorriso. -Como se comportou ela, Ana? -Lindamente como sempre. Está crescendo, a tua menina. Catarina recebeu a mãe com um abraço e olhou directamente para mim, desafiando-me. - Mas os sonhos, Ana, podem acontecer na vida real. Vais negar isso também? Sorri. A miúda sabia realmente como me deixar sem argumentos. Não argumentei. Não podia fazê-lo. Por vários motivos. |