domingo, janeiro 30, 2005

Saltos altos

Decidi "criar". Foi uma opção louca, atrevida e ambiciosa demais, talvez. Convicta desse desejo e com avidez monstruosa, dei por mim jogada no chão, simples, como Eva, no início do mundo, olhando o céu e pensando na minha pequenez perante a grandiosidade do espaço azul e da vida que respirava à minha volta. Escorregara no alto dos meus saltos, reclamando a sensualidade do deambular nos sapatos novos. De nada adiantava decidir ser o que não era, tentar conseguir o que não tinha. Sonhar não tem preço, eu sei, mas ia me custando uma perna partida. "Oh miúda..." Epá! Entrou pelas narinas aquele cheiro a hormonas masculinas, junto com David Hoff e pele fresca saída de um banho. Hesitei. "Abro os olhos ou fico aqui no chão, simulando desmaio?" Nem tive tempo. Puxaram-me com mãos firmes e o meu corpo , já na vertical, ficou colado ao monumento em pessoa do cavalheiro que aparecera do nada. Há minutos atrás, ousara encarnar um personagem fictício. Agora, por mim, parava o filme que estava vivendo. Dava-lhe um "pause" prolongado. Caramba! Que homem! Queria apreciar. Deleitar-me com aquela aparição. "Estás bem?" Voz de trovão suave. Sim. Masculina, mas doce. Parece contraditório? Claro... Só mesmo perante a situação é que se consegue sentir. Inexplicável. E durante este tempo, fiquei quase sem respirar. Isto porque o David Hoff atordoou-me os sentidos, não queria perder aquele perfume por nada e ele apertava-me com tanta força que sentia os seus peitorais inchados (um exagerozito é típico feminino). Aí aconteceu o ridículo. Ainda mais ridículo, eu sei. Engasguei-me. Acho que foi falta de ar mesmo. As mulheres são estranhas quando querem ou quando menos querem. Este deve ser o nosso fascínio. Bem, desatei com uma tosse sem classe alguma e acho que o salpiquei. E o mais estranho de tudo... Queria falar, pedir desculpas, fosse o que fosse e não fui capaz. Ainda bem. Se abrisse a boca, diria certamente algo que poderia não cair muito bem, como: "Queres..." ou "..."
Ai ai ai... Que vergonha... Isto de estar nos 30, tem pano para mangas.

2 comentários:

Duarte disse...

Arrebatadores os teus textos, de uma intensidade galopante, de sensibilidade ousada de mulher... lindo!
Fiquei embevecido com o teu comentário no meu blog. Obrigado. Foi um fragmento bonito e poético que em muito valoriza o meu "cantinho". Vou criar um link para o teu blog como forma de gratidão, e aparecerei mais vezes :)
Retribuo com um beijo, desta vez matinal

Duarte disse...

Devo dizer que cometi um ligeiro deslize ao não comentar o "pano para mangas" do ser-se dos 30 :) Devíamos fazer um manifesto para alguém lembrar-se de compor uma "ternura dos trinta", mas um cadito mais irreverente. Apraz-me registar a rebeldia sadia que vai dentro de ti, nesta ilha por vezes do desterro.. :)