
O certo é que a alegria que parece jorrar nestes dias, abusando nos conceitos de excentricidade e de desinibição, não suscita qualquer tipo de hesitação quanto ao esforço e empenho pessoais aplicados na elaboração de uma máscara original e criativa. O apelo nasce quase de forma espontânea e torna-se contagiante o simples “querer” participar neste samba que combate o stress e faz esquecer, por umas boas horas, o quotidiano e as rotinas malucas que esvaziam as carteiras, tais como, as despesas mensais. Estes dias não são numerados nem medidos. Aproximamo-nos do final do mês. Ninguém deu por isso. Ainda bem.
Os limites perdem-se (felizmente) e a coragem sai à rua vestida de “Trapalhão”, sambando contra os males da sociedade, numa crítica voraz, acesa, divertida, mas sobretudo realista. É no desfile “atrapalhado” que se centram as atenções dos madeirenses e turistas, cada vez mais numerosos, nesta época. O público aplaude os (des)“mascarados” e os mais destemidos entregam o corpo aos ritmos quentes de origem africana. Assim, dando uns pézinhos de samba, quebram a timidez e a passividade da assistência. Os “trapalhões” fazem as delícias das crianças e enchem de coragem os foliões que lavam a alma secretamente atrás de um “disfarce”, ousando cantar aos “deuses governamentais”: Ei, você aí, me dê um dinheiro aí, me dê um dinheiro aí”... Sambem. Revelem-se. Propaguem a epidemia. Quem sabe alguém influente nos ouve e lê os pensamentos exibidos atrás da máscara? Não custa tentar. É Carnaval.
(publicado no DN de 25 Fevereiro 2004)