domingo, setembro 16, 2007

Rasgos de sangue


Voltei de novo ao espelho e vi a sombra do passado.

Se insisto em considerá-lo História, o presente teima em reacender as cicatrizes provocadas pelo incêndio suicida. Nada derruba tanto um ser quanto um espelho quebrado, sem imagem, vazio de crenças e esperança. Pelo chão pedaços de vidro quebrados, ainda ensanguentados, sorriem com ironia. São restos de saudade que ficaram, angústias afogadas, pseudo-amizades acolhidas em mimos, raízes nulas de autencidade. Os frutos obtidos são tudo menos paixão, luz e encantamento. Já não existe espelho, nem tempo, nem vida reflectida. O sonho morreu. Ficaram as pegadas de dor, marcas de sangue escuro, solitárias, abandonadas, agora indefinidas, já secas, esmagadas contra o chão pisado e sujo.

quarta-feira, setembro 05, 2007

Banco de areia

HOJE...


perdi um dia de sorrisos de vida;
perdi um rio de lágrima sofrida;
perdi um dia de confiança garantida;
perdi uma paixão muito sentida;
perdi a palavra de amor sempre recebida;
perdi a alegria da alma criativa;
perdi o sol de timidez esbatida;
perdi a febre do sangue, comprometida:
perdi o tempo na pulsação atrevida.

HOJE...

ganhei alguma da auto-estima já esquecida;
ganhei a consciência do teatro que se diz mundano;
ganhei uma maturidade envaidecida;
ganhei a cura pela experiência vivida;

ganhei a honra na dignidade defendida;
ganhei um dia de intensa ferida, já esquecida.

HOJE...

Embati num banco de areia. Afundei.

Tudo isto perdi e ganhei.

Ficaram estrias profundas no coração,magro de decepção e vazio de solidão.

Foi declarado o meu naufrágio de sonhos.

Nem a melhor marca de sedativos
obteria esta intensidade de dicotomias.
Deveria haver o seu genérico à venda nas Farmácias.

(Resultados garantidos.)