
- Tens a certeza que não estás acrescentando nada ao guião?
Susana meteu-lhe a mão sobre os ombros.
- Nadinha. Estou simplesmente sentindo o texto.
Cristina permaneceu na dúvida. A emoção da amiga parecia tão real que até lhe dera um calafrio. Susana ficou no relvado, embriagada no texto que decorara. Cristina afastou-se. Continuava visivelmente apreensiva. Sentia o ciúme e a raiva, até nos gestos minúsculos de Susana, recortados pela sombra das árvores já distantes...
Deslizou os dedos suavemente pela água morna da lagoa, murmurando:"Isto é teatro puro, nada mais. Susana é uma actriz... Está apenas representando."
Li o movimento dos seus lábios. Ficamos olhando uma para a outra, amedrontadas.
Era assustadoramente parecida comigo, em tudo e em nada. A dança com os dedos na água calma da lagoa, acelerou, esboçando círculos, numa valsa perdida. Senti a indefinição do contorno dos meus traços, presa na sua imagem. Ainda consegui espreitá-la, na confusão das águas turvas, endireitando os cabelos louros, com ar pseudo-altivo que não escondia a ninguém a humildade, desenhada, exposta no rosto, ligeiramente perturbado.
Afastou-se da lagoa e eu fiquei ali, escondida no escuro do lodo sedentário, esperando pelo dia seguinte, presa no medo de não voltar a ver o meu reflexo.
Era assustadoramente parecida comigo, em tudo e em nada. A dança com os dedos na água calma da lagoa, acelerou, esboçando círculos, numa valsa perdida. Senti a indefinição do contorno dos meus traços, presa na sua imagem. Ainda consegui espreitá-la, na confusão das águas turvas, endireitando os cabelos louros, com ar pseudo-altivo que não escondia a ninguém a humildade, desenhada, exposta no rosto, ligeiramente perturbado.
Afastou-se da lagoa e eu fiquei ali, escondida no escuro do lodo sedentário, esperando pelo dia seguinte, presa no medo de não voltar a ver o meu reflexo.