Estava nua e a lua brilhava sobre o meu rosto e sobre a minha alma. Há muito que não a encontrava assim desnudada, a alma, feita de sonhos que se despiam chorando caidos no chão, jogados como lixo. Na busca do teu amor impossível, refugiei-me nos braços de um outro que de forma ilusória deixou a neblina me cegar por breves instantes. Estou de novo nua e vejo o meu corpo exposto sob a lua. Não sou ninguém nesta noite escura que me abraça friamente e de forma vazia, fria, vazia, sozinha, fria. Apenas eu, o meu corpo e a lua. Estou nua e penso se não seria melhor estar fria, sem sangue correndo nas veias, despida da vida. Assim, vazia, sozinha, nua, o frio consome os meus sentimentos e gela-os, petrifica-os, mata-os. Estou nua sob a lua e não entendo porque ainda respiro se a noite procura em mim rastos de morte. Estou nua e vejo o meu corpo que balança num respirar lento e vazio, num gemido quase sumido, num suspiro que não busca nada, apenas um lamento inaudível... Estou nua sob a lua e nas sombras que deixo no chão reconheço o sorriso apagado que um dia tive. Finjo amar-te, mas engano-nos. Quero amar-te, mas não consigo. Sou um corpo vazio e sozinho, carne macia que deixa deslizar os dedos quentes de quem diz amar, uma pele ainda suave que se sente ardente quando pensa em ti e no amor que desmente a toda a hora. E continuo nua sob a lua. Ela que vê o meu corpo contorcer-se de dor e de amargura, testemunhando o desfalecimento do amor impossível que nunca teve hipótese de existir. Estou fria, imóvel, triste e sei que quando o sol nascer, a escuridão continuará em mim, gelada, inconsciente, na lápide que esboça uma foto antiga onde ainda havia sorriso e esperança. Estou nua sob a lua, enterrada numa vida de sonhos mortos. Estou nua sob a lua, eu e os meus sonhos, feitos de sombras, compostos de mantos de folhas secas e pesadas que nem o vento doce matinal consegue erguer. Estou fria, gelada, sozinha, fria, nua, vazia, fria, nua, fria e sinto medo... Sinto medo que o meu coração gele antes de poder sussurrar o meu sentimento por ti. Está frio e é noite. A lua escondeu-se atrás de uma nuvem escura carregada de tempestade. Entrego a minha voz rouca ao vento suave que anuncia o choro dos céus e aguardo o meu destino apagado. Gelei. Vejo o escuro em redor. Ceguei. Não sinto nada além de uma lágrima quente que escorrega pelo meu rosto pálido, triste e frio e morre no chão escuro e frio, caindo na eternidade de um sentimento isento de vida. Está frio e é noite... Visualizo a camisola azul de cetim que adivinha as curvas de um corpo com vida. A lua ressurgiu no céu. Fecho a porta da varanda e entro no quarto. Deito-me na cama e adormeço.
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